Realizada na Feira de Sustentabilidade em Carapina, Espírito Santo, a entrevista com Bárbara Tupinikim trouxe à tona sua jornada como liderança indígena e engenheira florestal, além dos desafios enfrentados na defesa da sustentabilidade e dos direitos dos povos originários. Integrante da comunidade Tupinikim, Bárbara compartilhou sua trajetória no campo da engenharia florestal, destacando desde os obstáculos enfrentados pela necessidade de deixar sua aldeia para estudar, até seu papel como mulher indígena e líder. Durante a conversa, ela reforçou o compromisso com a restauração ambiental e a produção sustentável de alimentos em sua comunidade, com especial atenção à preservação das abelhas sem ferrão, espécies fundamentais para a biodiversidade.
Bárbara descreveu sua experiência na recuperação de áreas degradadas e no cultivo de alimentos locais nos últimos quatro anos, destacando como esses esforços ajudam a renovar a esperança em sua comunidade e demonstram que é possível reverter danos ambientais. Ela enfatizou que essa restauração vai além do simples ato de plantar árvores, sendo essencial cuidar da saúde do solo e da biodiversidade para obter resultados duradouros. Além disso, mencionou a importância de compreender a interconexão entre todos os seres vivos, ressaltando que o solo saudável é base para uma cadeia de vida sustentável, desde a produção de alimentos até o equilíbrio dos ecossistemas.
Com humor e profundidade, Bárbara também defendeu o papel vital das formigas nas práticas de restauração florestal, explicando como esses insetos contribuem para a saúde do solo ao decompor matéria orgânica e atuam como indicadores das condições ecológicas. Esse exemplo serve como uma crítica às práticas humanas que muitas vezes degradam os recursos naturais, como o uso excessivo de monoculturas e a priorização de materiais industriais, como o petróleo.
Durante a entrevista, ela chamou atenção para os impactos do contexto histórico brasileiro como uma colônia de exploração e sua ligação com as emergências climáticas atuais. Bárbara ressaltou a necessidade de maior representatividade das vozes indígenas nos debates ambientais, destacando que as terras indígenas permanecem como os maiores redutos de preservação ambiental do país. Segundo ela, esses territórios não apenas abrigam biodiversidade rica, mas também são essenciais para a mitigação das mudanças climáticas globais.
Outro ponto abordado foi a relação entre mulheres e questões ambientais, já que, segundo Bárbara, elas ocupam posições fundamentais na linha de frente dos desastres ecológicos. Ela destacou que as mulheres são particularmente vulneráveis durante essas emergências, mas que possuem um papel único e transformador nas iniciativas comunitárias e eventos ecológicos, como feiras e mutirões de plantio.
Bárbara Tupinikim também trouxe reflexões sobre o vínculo filosófico entre humanidade e natureza, incentivando uma transformação coletiva para regenerar o relacionamento com o meio ambiente e garantir um futuro sustentável. Ela propôs um diálogo mais profundo entre os saberes indígenas e a ciência moderna, acreditando que a junção dessas perspectivas pode oferecer soluções eficazes para os problemas climáticos. Bárbara salientou a influência do Maracá, instrumento sagrado utilizado por mulheres indígenas, como fonte de proteção e concentração, além de apontar para a riqueza medicinal das plantas e a harmonia que os povos originários mantêm com a natureza.
Por fim, Bárbara Tupinikim fez um apelo à inclusão das mais de 300 povos indígenas e suas diversas línguas nos processos de decisão ambiental no Brasil. Ela reforçou que a compreensão e respeito às leis naturais são indispensáveis para enfrentar os desafios climáticos, além de destacar que as ações coletivas podem construir um legado transformador para as futuras gerações. A entrevista foi encerrada com agradecimentos à parceria entre os organizadores do evento e o público presente pelo espaço concedido, reafirmando seu compromisso de luta por um planeta mais saudável e uma sociedade mais consciente e inclusiva.