A taxa de brasileiros com ensino superior completo quase triplicou nas últimas duas décadas, mas o número ainda não ultrapassa 20% da população com 25 anos ou mais. Dados do Censo Demográfico 2022, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), apontam que o percentual saltou de 6,8% em 2000 para 18,4% no ano passado. Isso significa que, de 133,1 milhões de brasileiros nessa faixa etária, 24,5 milhões concluíram a graduação — número superior à população inteira de Minas Gerais no mesmo período.
Apesar do crescimento, a maior parte dos brasileiros dessa faixa etária ainda não completa sequer o ensino fundamental. Em 2022, 35,2% dos cidadãos com 25 anos ou mais tinham ensino fundamental incompleto, um grupo que ainda é o mais representativo, superando aqueles com ensino médio completo (32,3%) e ensino superior concluído (18,4%).
Velhas desigualdades ajudam a explicar os números
Para Bruno Perez, analista do IBGE e responsável pela apresentação dos dados, as dificuldades de acesso à educação, especialmente para gerações mais velhas, explicam parte desse cenário. “Houve uma expansão significativa, mas esse grupo [com ensino superior completo] ainda é minoritário porque a população mais velha, que teve menos acesso à educação, ainda pesa nos índices totais”, diz Perez. Dados do Censo mostram que pessoas com 80 anos ou mais têm, em média, 4,9 anos de estudo, quase sete anos a menos do que os jovens entre 25 e 29 anos, cuja média é de 11,8 anos.
A desigualdade racial também é evidente nos números. Em 2022, apenas 11,7% dos pretos e 12,3% dos pardos acima dos 25 anos haviam concluído a graduação, enquanto entre os brancos esse índice alcançou 25,8%. Embora todos os grupos tenham avançado desde 2000, quando registravam percentuais muito inferiores — 2,1% para pretos e 2,4% para pardos — a diferença permanece expressiva e reflete o legado de desigualdade histórica no acesso a oportunidades de formação.
“Expandir o acesso não significa, necessariamente, democratizar o sistema educacional. Jovens de famílias com melhores condições econômicas e maior capital cultural ainda aproveitam mais essas oportunidades”, avalia o pesquisador Salata, também ouvido na reportagem.
Disparidades regionais e o peso do ensino a distância (EaD)
O mapeamento regional reforça as desigualdades no acesso ao ensino superior. Enquanto o Distrito Federal lidera com 37% da população de 25 anos ou mais graduada, o Maranhão registra o menor índice do país, com apenas 11,1%. Entre regiões inteiras, o Centro-Oeste (21,8%) superou o Sudeste (21%) em proporção de graduados, enquanto o Norte (14,4%) e o Nordeste (13%) apresentam os percentuais mais baixos.
Nos municípios com mais de 100 mil habitantes, a desigualdade é ainda mais evidente. São Caetano do Sul, em São Paulo, lidera com 48,2% da população graduada, enquanto Belford Roxo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, registra apenas 5,7%.
Outro fator que vem influenciando o aumento das graduações é a expansão significativa da modalidade de ensino a distância (EaD). Segundo Salata, essa oferta “reduziu barreiras” para muitas pessoas, mas também trouxe desafios relacionados à regulação e qualidade, que precisam ser monitorados.
Brasil ainda distante de maiores índices globais
Ainda que o avanço brasileiro no ensino superior seja notável, o país segue atrás da média dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Entre pessoas de 25 a 34 anos, 22,4% têm ensino superior no Brasil, enquanto a média da OCDE é de 47,2%. Países como Coreia do Sul (69,6%), Canadá (67%) e Japão (65,7%) lideram os índices globais, mas também países latino-americanos, como Chile (40,5%) e Colômbia (34,1%), apresentam avanço significativo frente ao Brasil.
Por outro lado, o país supera nações como Argentina (19%), Índia (20,5%) e África do Sul (13,1%).
Avanços e alertas para o futuro
Embora programas como o Sisu, Prouni, Fies e iniciativas de cotas universitárias tenham ampliado significativamente o acesso ao ensino superior nas últimas décadas, o cenário ainda exige atenção. A desigualdade no acesso, seja por motivos econômicos, regionais ou raciais, permanece uma barreira, e o alerta sobre a qualidade de novas ofertas, especialmente no modal EaD, evidencia a necessidade de políticas públicas mais robustas para consolidar não apenas o acesso, mas também a efetiva democratização e qualidade da educação superior no Brasil.
Os números revelados pelo IBGE oferecem tanto uma perspectiva de avanço quanto os desafios que ainda moldam a trajetória educacional do país, no caminho para um sistema mais inclusivo e equitativo.








