Em um recente comunicado da Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável, uma aliança de quase 30 organizações não governamentais (ONG) ambientais expressou suas preocupações em relação ao gasoduto H2Med, que visa transportar hidrogênio para a Europa Central. As ONGs argumentam que a construção deste gasoduto pode prejudicar a disponibilidade de energia renovável para consumo interno na Península Ibérica e causar impactos significativos nos ecossistemas, colocando em risco a biodiversidade local.
Desafios do H2Med e seus impactos
Os ativistas destacam que o gasoduto possui a capacidade de transportar até dois milhões de toneladas de hidrogênio anualmente até 2030. Para viabilizar essa operação, será necessária a instalação de, pelo menos, 40 gigawatts (GW) de nova capacidade de energia renovável em Portugal e Espanha. Essa demanda pode resultar em uma concorrência por terrenos, recursos de energia renovável e infraestrutura de transporte de eletricidade, aumentando os riscos para o meio ambiente.
Dependência do gás fóssil
Se concluído, o H2Med poderá enfrentar o dilema da insuficiência na oferta de hidrogênio verde, levando à possibilidade de mistura com gás fóssil. Essa solução, conforme as ONGs, poderia prolongar a dependência do gás fóssil por longos períodos, aumentar a vulnerabilidade energética em relação a países estrangeiros e resultar em emissões significativas de gases com efeito estufa.
Incertezas sobre a demanda de hidrogênio verde
Os ambientalistas também apontam que atualmente não existem dados confiáveis sobre a demanda futura de hidrogênio verde na Europa Central. Isso levanta questões sobre a viabilidade e a eficiência do investimento em infraestruturas como o H2Med, que pode se revelar um desperdício de recursos públicos.
Prioridade para a produção local
Considerando os desafios técnicos e o consumo elevado de energia no transporte de hidrogênio, as ONG recomendam que a prioridade seja dada à produção e ao consumo local desse recurso. Essa abordagem é vista como mais eficiente e adequada, especialmente para setores de difícil eletrificação, como a indústria do aço, a aviação e o transporte marítimo. Também é sugerido que se adotem medidas para a redução da demanda.
Alternativas melhores para recursos públicos
Os signatários da posição manifestam-se contrários ao desenvolvimento de grandes infraestruturas para o transporte e exportação de hidrogênio neste momento. Defendem que os fundos públicos alocados para o H2Med seriam mais eficazes se investidos em alternativas comprovadas, como a eletrificação direta, o autoconsumo, comunidades de energia e melhorias na eficiência energética.
O posicionamento das ONG surge um dia após o encerramento do “Convite à manifestação de interesse” para potenciais produtores e consumidores de hidrogênio envolvidos no projeto. O Memorando de Entendimento para o H2Med foi assinado em dezembro de 2022 por diversas entidades e, um ano depois, recebeu a classificação de Projeto de Interesse Comum e Mútuo pela Comissão Europeia.
Entre as organizações que apoiam essa posição estão a Academia Cidadã, a rede Gas No es Solución, Climáximo, Ecologistas en Acción e outras 24 ONGs, refletindo uma forte resistência ao gasoduto H2Med e suas implicações para o meio ambiente e a energia renovável.