Cláudia Espíndola, 44 anos, enfrentou em 2015 o diagnóstico de câncer de mama em estágio 4, o mais elevado. Esse momento trouxe à tona uma realidade de medos e incertezas, intensificada pela descoberta de que estava grávida de seu segundo filho durante o tratamento. A gravidez não apenas se revelou uma surpresa, mas também uma fonte de força para Cláudia continuar lutando contra a doença.
De acordo com a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), em 2023, a incidência de câncer de mama em gestantes é uma realidade rara, afetando cerca de uma em cada 3 mil mulheres grávidas no Brasil. Este tipo de neoplasia é considerado o mais comum entre gestantes. O caso de Cláudia, assim como o de outras mulheres na mesma situação, destaca a complexidade emocional que envolve a gestação e o tratamento oncológico.
Cláudia relatou como essa fase gerou um estado constante de angústia, culminando em uma síndrome do pânico. “Não conseguia dormir, sentia agonia e tinha medo de ficar sozinha”, descreveu. Contudo, ela ressaltou que a gestação trouxe uma nova perspectiva. “Ficar grávida me deu forças para seguir. Pensava muito no meu filho”, lembrou.
Diagnóstico e tratamento
Ao sentir um nódulo no seio esquerdo, Cláudia passou por exames que confirmaram a gravidade de sua condição. O tratamento, que envolveu uma cirurgia para remoção do nódulo e sessões de quimioterapia, foi ajustado após a resposta inesperada de que ela estava grávida. Após a mastectomia parcial, um exame revelou que ela estava de 14 semanas e 6 dias de gestação.
“Foi um baque saber que estava com câncer, imagine descobrir que estava grávida ao mesmo tempo”, comentou.
O tratamento de câncer de mama na gestação requer um equilíbrio cuidadoso entre o que é necessário para a saúde da mãe e o desenvolvimento do feto. Radioterapia e medicamentos de terapia hormonal são contraindicações nessa fase. A quimioterapia, geralmente, é evitada no primeiro trimestre, mas pode ser incorporada em trimestres subsequentes, sempre com acompanhamento obstétrico rigoroso.
O oncologista Ricardo Caponero, membro da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), destacou os riscos associados: “Se a quimioterapia é realizada, há risco de diminuição do líquido amniótico e antecipação do trabalho de parto”.
A gestação de Cláudia foi marcada por desafios emocionais, agravados pela síndrome do pânico. Ela enfatizou a importância do apoio familiar e a presença de seu filho mais velho durante esse período difícil. A oncologista Ana Carolina Salles enfatiza que o apoio psicológico é crucial para mulheres que enfrentam câncer durante a gravidez.
Os exames mensais acompanharam a gestação, e, apesar das recomendações para cesárea, Cláudia teve um parto normal, sem complicações. Após o nascimento de seu filho, ela iniciou o tratamento de radioterapia, enfrentando a difícil decisão de não amamentar.
Após o término do tratamento, Cláudia recebeu a notícia de que estava em remissão e não apresenta mais nódulos. Sete anos após o diagnóstico, ela afirma: “Finalmente, estamos bem. Está tudo certo.” A história de Cláudia evidencia a força e a resiliência necessárias para enfrentar tanto a gestação quanto o câncer, em um contexto em que a vida e a doença se entrelaçam.