Maria Chagas vivia uma vida miserável, não por causa da falta de uma moradia ou de comida, mas sim por culpa de seu avô Eduardo Chagas.
Eduardo era um respeitado e importante médico e pesquisador da Ufes, mas especificamente um grande especialista em doenças hereditárias como por exemplo a Distrofia Muscular de Duchenne e a Hemofilia.
Seus projetos e pesquisas eram tão importantes que ele era reconhecido tanto nacionalmente quanto internacionalmente, ganhando prêmios e o respeito de todos.
Mas uma característica pouco conhecida do doutor Chagas era o fato dele ser absurdamente hipocondríaco com relação a sua neta.
Por isso desde muito nova Maria recebia altas doses de diversos remédios diferentes por dia, dos mais comuns até os que eram usados em casos de doenças e tratamentos graves.
Seu avô também fazia de tudo para manter Maria longe do mundo, por isso sua vida inteira foi trancada dentro da enorme mansão da família, longe de tudo e todos.
A pobre garota nunca havia conhecido ninguém além do seu avô e de alguns funcionários que trabalhavam fielmente para Eduardo.
Eduardo falava a todos que perguntavam por Maria que sua saúde era bastante frágil, por isso ela não podia sair de casa.
Uma noite quando tinha 16 anos, Maria simplesmente explodiu de raiva e perguntou para o avô: Por que? Por que ele havia condenado ela a essa vida miserável?
A resposta de sua pergunta era mil vezes pior que ela poderia imaginar e iria mostrar que o seu destino era a morte.
Tudo isso começou em 1980, quando Eduardo era um jovem e brilhante aluno que tinha acabado de ser aceito no curso de medicina da Ufes, mas especificamente em primeiro lugar com notas máximas em tudo.
Seus pais não poderiam esta mais orgulhosos, afinal, Eduardo daria continuidade ao legado da família e se tornaria um médico.
Mas Eduardo não estava interessado em fama ou fortuna, nem em agradar os seus pais, mas sim em ajudar as pessoas.
Sim, naquela época Eduardo ainda tinha a doce ilusão que poderia mudar o mundo.
Já nos primeiros meses do curso, Eduardo foi o grande destaque não só da turma mas também da faculdade, até mesmo os professores mais experientes e carrascos ficaram impressionados com a inteligência dele.
Uma noite enquanto fazia o seu caminho habitual para casa, Eduardo começou a ouvir uma voz, velha e sofrida, chamando por seu nome.
Aquela voz não era estranha para Eduardo não, e foi isso que causou calafrios nele.
Afinal aquela era a voz do seu falecido avô, Marcelo Chagas.
Eduardo ficou paralisado, como aquilo poderia ser possível? Ele estava ficando maluco? Ou os seus colegas colocaram algo em sua água?
Apesar de todos os instintos de Eduardo estarem gritando que ele deveria apenas ignorar aquela maldita voz e sair correndo, aparentemente suas pernas não concordavam, quase como se tivesse sido hipnotizadas.
Ele então fez um longa caminhada até um prédio abandonado e desconhecido, um que ficava longe de tudo e que ele nem sabia que existia, apesar de sempre andar por aquele espaço. Aquele prédio era um típico prédio de filme de terror: velho, abandonado, isolado, muito sujo e claramente mal-assombrado.
“O que eu estou fazendo aqui? Claramente esse local é perigoso.” – pensou Eduardo, mas de novo parecia que o seu corpo não obedecia a sua mente.
Entrando no prédio Eduardo acabou percebendo que na verdade se tratava de um hospital abandonado, mais especificamente o hospital onde o seu avô havia passado os seus últimos e dolorosos dias de vida.
A verdade é que Eduardo nunca tinha visitado o seu avô nos seus últimos momentos, não porque não queria, mas por culpa de seu pai. Seu pai apenas lhe disse que seu avô havia sido diagnosticado com uma doença horrível e que não queria que Eduardo visse a aparência doente do avô.
Até mesmo durante o velório Eduardo foi proibido de se aproxima do caixão, mesmo ele estando fechado.
Durante anos a mente de Eduardo ficava imaginando como ficou a aparência de seu avô, mas nada que ele poderia imaginar podia o preparar para a realidade.
Porque no canto da sala estava a figura de um homem alto, mais ou menos 2 metros e meio, magrelo com sua fina pele praticamente grudada em seus ossos. A cor da sua pele era diferente do normal, ela era laranja amarronzada, igual as folhas de outono, e também estava coberta de ferimentos e bolhas nojentas.
Ao percebe a presença do neto, Marcelo deu um longo e macabro sorriso que revelava os seus dentes podres e afiados.
– Finalmente você veio me visitar, foi triste não ver meu querido neto por anos – disse Marcelo.
Eduardo estava paralisado de medo e pânico, não sabia o que fazer ou dizer, aquela coisa que um dia foi o seu avô estava causando agonia em sua alma.
Percebendo o medo do neto, Marcelo começou a rir de forma baixa, mas ao mesmo tempo medonha, do tipo que causa medo em qualquer um.
– Eu sei garoto, não é exatamente minha melhor aparência e deve ser difícil ver com você vai ficar no futuro.
– O QUE ?
– Uma longa história, mas para resumir: nossa família tem uma maldição hereditária que é passada de geração em geração, igual a uma doença hereditária – explicou Marcelo enquanto se aproximava de seu neto, assim espalhando o seu cheio de morte pelo ambiente – infelizmente não existe nada nesse mundo que possa reverter isso, por isso estou aqui para avisá-lo.
Aquilo era informação demais para Eduardo, que apenas ficou ali observando e ouvindo o seu avô, até que ele se sentiu fraco e de repente tudo ficou preto.
O som de um miado de gato foi o que acordou Eduardo, que ao olhar ao redor percebeu que estava em uma cama de hospital rodeado por amigos e familiares, com exceção de seus pais, e um lindo gato branco de longos pelos que estava deitado em seu peito.
– O que? O que aconteceu? – perguntou ele para um dos médicos que também estava na sala.
– Você desmaiou no caminho de volta para casa, por sorte um de seus amigos estava passando pela rua e trouxe você até aqui – respondeu o médico enquanto ele e sua equipe avaliavam a situação de Eduardo.
Por um momento Eduardo sentiu um grande alívio, afinal aquilo tudo não passou de um sonho ou uma alucinação. Ela sabia que aquela maluquice não poderia ser real.
– Eduardo, eu não sei com te contar isso, mas muita coisa aconteceu nessas poucas horas que você estava desmaiado – disse sua namorada da época e futura esposa Juliana – o seu pai também está aqui no hospital.
– O que? Por que?
– Eu não sei, sua mãe apenas me disse que ele de repente ficou estranho e que a sua pele começou a ter algumas bolhas e uma cor diferente de tudo que já tinham visto.
Eduardo naquele momento parecia que tinha esquecido de como respirar.
Então aquilo era verdade, a maldição em forma de doença, e agora o seu pai seria a próxima vítima.
Nos anos seguintes Eduardo se dedicou a estudar mais afundo a doença de sua família, mas infelizmente sem sucesso. Aquela maldita doença levou o seu pai, alguns anos depois levou sua amada filha, que tinha engravidado com apenas 15 anos e por conta da dificuldade durante o parto, acabou que a maldição a atingiu mais cedo.
Depois de muitos anos de dor e sofrimento, Eduardo decidiu dedicar todos os seus esforços em pelo menos salvar sua neta, Maria.
Maria que naquele momento estava sentindo o mais profundo medo, afinal não é todo dia que você descobre que terá um final trágico e cruel, e que nada disso pode ser evitado.
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“The Bridgertons: O Duque e Eu” – Como usar o clichê de forma divertida e cativante
Afilhada. Deixando gostinho de quero mais.
Já quero ler o próximo.
Um conto que conta e encanta.
Parabéns!!! Estou ansioso para ler o próximo conto.
Parabéns, Anna Terra ❤️
Anna, parabéns pelo trabalho! Gostei muito da construção do seu texto. Já tem uma fã. Siga firme.
Parabéns pelo conto. Já ansiosa pelos seguintes.
Ótimo trabalho Ana parabéns!👏
Parabéns, Ana👏🏿👏🏿
Cada dia melhor. Seus contos são bem retalhados e nos faz entrar e vivenciar cada cena como se estivéssemos presente. Demais… aguardando o próximo…
Muito bom. Novamente o gato branco.
Parabéns, Anna!!!! Leitura maravilhosa!!!!