A 65° cerimônia anual do Grammy Awards aconteceu em 5 de fevereiro de 2023, em Los Angeles, Califórnia, nos Estados Unidos. E como sempre, foi muito comentada nas redes sociais, com destaque ao Twitter.
O Grammy ainda perpetua racismo, xenofobia e machismo na seleção de artistas e impede a conquista das minorias nas premiações mais cotadas, como Album of the Year (AOTY).
A canção Apeshit de Jay Z em parceria com Beyoncé, já demonstrava seu descontentamento com a Academia, na letra “Mande o Grammy se f**** com essa merda de 8 nomeações e 0 vitórias”.
Em 2020, o boicote ao The Weeknd revoltou não só os fãs, mas todos os amigos e colaboradores do cantor. Houve um reconhecimento geral de que o álbum After Hours merecia ter sido indicado na premiação. Mas a academia o ignorou completamente.
Neste ano, não foi diferente. Beyoncé, apesar de levar 4 das 9 estatuetas em que concorria, perdeu o prêmio mais importante da noite com seu álbum Renaissance para o Harry’s House de Harry Styles. A pessoa que mais ganhou Grammys nunca foi aclamada com o maior prêmio da indústria.
O discurso do ganhador gerou polêmica no Twitter e foi chamado de ‘desconcertante’. “Estou muito agradecido. Vou passar [o prêmio] para os meus colaboradores. Isso não acontece muito para pessoas como eu. Muito obrigado!”.
Para o público, Harry, homem branco, foi audacioso e até mesmo sem noção, por dizer isso na frente de nomes como Beyoncé, Bad Bunny, Kendrick Lamar e Lizzo. Cantores negros e latinos que estão há mais tempo na indústria e nunca ganharam o AOTY.
A última vez em que uma mulher negra ganhou a categoria de ‘Álbum do Ano’ foi com Lauryn Hill, em 1999. Apenas 12 artistas negros já ganharam nesta categoria, ao longo dos 64 anos de cerimônias do Grammy Awards.
A cerimônia categoriza alguns álbuns e músicas de forma bastante racista e xenofóbica. Por que os artistas latinos são indicados nas categorias de ‘Melhor Álbum de Música Urbana’ e ‘Melhor Álbum Latino’? E, por que os artistas negros, nas categorias: ‘Melhor Performance de Rap’ e ‘Melhor Álbum de R&B’?
Um destaque positivo durante o evento foi Bad Bunny ganhar pelo segundo ano consecutivo o prêmio de Melhor Álbum de Música Urbana. Discursou em sua língua materna, o espanhol, o que é um ato de resistência e de protesto também, contra toda a hegemonia branca que domina a premiação.
Além disso, o porto-riquenho fez a apresentação de abertura da noite, um medley de ‘El Apagon” e “Después de la Playa”. ‘Hablando’ em espanhol, o cantor colocou todo mundo para dançar os ritmos latinos com uma letra que caiu bem para o Grammy: “Agora todos querem ser latinos, mas falta tempero, energia e reggaeton neles”.
A insatisfação com a academia não é só por parte do público, muitos artistas deixaram de se apresentar por não compactuarem com essas atitudes segregativas.
Em 2016, Snoop Dog revelou que não submetia mais seus trabalhos e ainda sugeriu a criação de uma premiação dos negros. Em 2017, o cantor Drake não quis submeter seu trabalho à avaliação do Grammy Awards, porque notou o preconceito da academia ao colocar Hotline Bling na categoria de rap, mesmo sem ser rap.
Não adianta culpar o racismo estrutural e não fazer nada para mudar em 64 anos de história dos Grammy Awards.
Maria Luísa é estudante de jornalismo, apaixonada por música, idiomas e cultura pop.
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Parabéns pela sua postura diante diante da valorização do ser humano como um todo! Admiro você!
Parabéns Luísa pela competente e corajosa análise!!!
Ual! Que texto maravilhoso, já sou fã.
Admiravel postura da estudante que sabe ver “alem” Das entrelinhas. Precisamos de mais Marias neste Mundo!!!Parabens!!!!