A era digital trouxe profundas transformações ao mundo do trabalho, com o surgimento de novas dinâmicas impulsionadas por tecnologias como a inteligência artificial e algoritmos. A situação atual é marcada pela “uberização”, uma transformação que redefine as relações laborais e intensifica a precarização.
O impacto das novas tecnologias
Desde a década de 1970, o capitalismo atravessa uma crise estrutural, também acentuada pela financeirização e pelo neoliberalismo. Nesse cenário, a automação e a digitalização passaram a ser ferramentas que otimizam a produção, mas também promovem o aumento das taxas de desemprego, principalmente no Sul Global. O contexto se agravou com a pandemia, que evidenciou e ampliou as lacunas existentes no mercado de trabalho.
A industriosa conversão do trabalho
A adaptação das empresas ao trabalho intermitente e a terceirização, legalizadas pela reforma trabalhista de 2017 no Brasil, geraram novas formas de exploração. A configuração contemporânea do trabalho, especialmente nas plataformas digitais, apresenta-se como um modelo de investimentos que evita o reconhecimento da condição de trabalhador assalariado, transformando o emprego em uma “prestação de serviços” camuflada.
Consequentemente, o que se observa é um renascimento de formas de exploração típicas do século XIX, onde a força de trabalho é mobilizada sob condições que desconsideram direitos fundamentais. A prática do crowdsourcing, por exemplo, reflete a exploração do trabalho fora das proteções legais usualmente oferecidas.
O contexto brasileiro no debate trabalhista
As eleições de 2022 trouxeram expectativas para a revogação da reforma trabalhista, mas as novas propostas, como o PLP 12/2024, suscitam preocupações. Ao classificar motoristas de aplicativos como autônomos, essa legislação pode excluir uma parcela considerável da classe trabalhadora de direitos básicos, comprometendo diversas garantias trabalhistas.
Outro ponto relevante é a discussão sobre a jornada de trabalho, que vem ganhando destaque nas eleições municipais. A demanda por uma jornada mais equilibrada, como a 4×3, representa uma alternativa à exploração exacerbada que caracteriza o trabalho sob condições atuais.
Um futuro incerto no trabalho digital
O avanço incontrolável da indústria 4.0, que busca minimizar a intervenção humana em favor de máquinas e sistemas automatizados, expõe a classe trabalhadora a um cenário de incerteza e precarização. A luta por direitos trabalhistas e contra a uberização se torna premente, exigindo um posicionamento firme da classe que vive do trabalho.
A nova configuração do trabalho, na era da inteligência artificial e das plataformas digitais, não é apenas um desafio, mas uma oportunidade de reinvenção e construção de um novo modo de vida que valorize a dignidade e os direitos dos trabalhadores. A mobilização social e a conscientização sobre as realidades do mundo do trabalho são essenciais para enfrentar este cenário.