O Instituto Butantan submeteu, há nove meses, um pedido à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar os testes clínicos de sua vacina contra a gripe aviária. Desde então, o instituto aguarda a análise da agência.
A Anvisa confirmou o recebimento e solicitou informações adicionais em duas ocasiões, sendo a última em 31 de janeiro, com a resposta do Butantan recebida em 24 de fevereiro. A documentação ainda está em revisão, sem previsão de conclusão. A Anvisa enfatiza seus esforços para priorizar análises de relevância estratégica para o país.
Recentemente, foram confirmados dois casos de aves infectadas no Rio Grande do Sul. O Ministério da Saúde descartou um caso suspeito em um trabalhador da granja onde foi identificado o primeiro foco. Atualmente, não há outros casos em investigação no Brasil.
Medidas de precaução
Embora a gripe aviária em humanos seja rara, é importante ressaltar os riscos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reporta 972 casos de infecções humanas por influenza A subtipo H5N1 entre 2003 e abril de 2025, resultando em 470 mortes. O diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás, afirma que a produção da vacina visa antecipar um aumento nas transmissões, garantindo um estoque estratégico pronto para uso, se necessário.
A gravidade dos sintomas e a taxa de letalidade da influenza aviária são preocupantes, atingindo 53% dos casos. O imunizante em análise utiliza a variante H5N8 do influenza A, escolhido por sua alta patogenicidade. O Butantan já concluiu os testes pré-clínicos e mantém um lote reserva para pesquisas com humanos.
Como as vacinas são testadas
As vacinas devem passar por rigorosos processos de avaliação. O caminho inclui análises em três fases de testes clínicos com humanos, após os testes em animais já realizados pelo Butantan.
Fase pré-clínica:
- Testes em animais.
- Avaliação do antígeno ideal, segurança e potencial de proteção.
Fase clínica (três etapas):
- Fase 1: Avaliação inicial com um pequeno grupo de voluntários saudáveis para determinar segurança e resposta imune.
- Fase 2: Envolve centenas de voluntários, testando segurança e formulações.
- Fase 3: Multitudinário, avaliando eficácia e segurança em larga escala, incluindo um grupo controle.
Vacinas pelo mundo
Um estudo da revista The Lancet Respiratory Medicine indica a existência de pelo menos 20 vacinas contra gripe aviária licenciadas globalmente, com perfis de segurança favoráveis. A produção vem de farmacêuticas de seis países e utiliza, em sua maioria, vírus inativado, com um esquema de duas doses. As reações adversas são geralmente leves, semelhantes às reações de vacinas sazonais.
No entanto, essas vacinas ainda não são amplamente aplicadas, com apenas a Finlândia implementando um programa de vacinação para grupos de risco.
O que é gripe aviária?
A gripe aviária é uma doença infecciosa causada pelo vírus influenza tipo A, afetando principalmente aves, mas também seres humanos. O subtipo H5N1 é o mais comum nos surtos recentes, com constante registro de casos nas Américas.
Recentemente, foram confirmados focos em aves no Brasil, incluindo um caso significativo em uma granja de ovos férteis no Rio Grande do Sul.
Sob controle
Especialistas consideram as chances de infecção em humanos como baixas. A diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabella Ballalai, afirma que a confirmação do vírus demonstra a eficácia do sistema de vigilância. Não há evidências de transmissão entre humanos, sendo os casos limitados a exposições diretas a aves infectadas.
A preocupação reside na propagação do vírus entre diferentes espécies, pois cada nova infecção aumenta o risco de mutações que poderiam facilitar a transmissão para humanos.