O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou o papel do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial durante a cúpula dos Brics, enfatizando que essas instituições oferecem um apoio financeiro que, segundo ele, sustenta um “Plano Marshall às avessas”. Para Lula, isso resulta em economias emergentes e em desenvolvimento sendo responsáveis pelo financiamento do mundo desenvolvido.
A declaração de Lula foi feita durante a segunda sessão plenária da cúpula, realizada no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro, cujo foco foi o fortalecimento do multilateralismo e debates sobre economia e inteligência artificial (IA).
Critica ao FMI e Banco Mundial
O presidente destacou que, enquanto o FMI e o Banco Mundial se concentram no mundo desenvolvido, os fluxos de ajuda internacional diminuem, e o custo da dívida dos países mais pobres aumenta. Lula pediu uma maior representação para os países do Sul Global no FMI, argumentando que o poder de voto do Brics deveria ser, no mínimo, 25%, em vez dos 18% atuais.
“As distorções são inegáveis”, declarou Lula. “Para fazer jus ao nosso peso econômico, o poder de voto dos membros do Brics no FMI deveria corresponder pelo menos a 25%”, completou.
Lula também fez críticas ao neoliberalismo, que, conforme sua visão, acentua as desigualdades sociais, citando que “três mil bilionários ganharam US$ 6,5 trilhões desde 2015”.
Banco do Brics
O presidente elogiou o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como Banco do Brics, destacando sua eficácia em governança. Ele mencionou a recente adesão da Argélia e os processos de adesão da Colômbia, Uzbequistão e Peru, apontando para a capacidade do NDB de financiar transições justas e soberanas.
Fundado em 2015, o NDB é liderado pela ex-presidente Dilma Rousseff desde 2023. O banco recebe também o interesse de países fora do Brics. Lula reiterou a importância de uma justiça tributária e do combate à evasão fiscal, elementos essenciais para estratégias de crescimento inclusivas e sustentáveis.
Comércio e Protecionismo
Durante sua intervenção, Lula criticou a Organização Mundial do Comércio (OMC), alertando que a paralisia da entidade e o aumento do protecionismo resultam em uma situação insustentável para os países em desenvolvimento. Essa crítica ocorre em um momento em que políticas protecionistas estão em alta, especialmente por parte dos Estados Unidos.
Inteligência Artificial
Lula anunciou que o Brics adotou uma declaração sobre governança da inteligência artificial, ressaltando a necessidade de que as novas tecnologias operem dentro de um modelo justo e equitativo. Segundo ele, o desenvolvimento da IA não deve ser exclusividade de poucos países nem uma ferramenta de manipulação nas mãos de bilionários.
Ineditismo da Reunião
O presidente destacou que esta 17ª reunião de líderes do Brics marca a inclusão de países-parceiros, um novo formato para engajar outras nações e enriquecer o diálogo. Lula enfatizou que os países convidados trazem diversas perspectivas que enriquecem a visão do Sul Global.
“O Brics é ator incontornável na luta por um mundo multipolar, menos assimétrico e mais pacífico”, declarou.
Entenda o Brics
O Brics é composto por 11 países: África do Sul, Arábia Saudita, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, Índia, Irã e Rússia, representando 39% da economia mundial e 48,5% da população global. Os países-parceiros incluem Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã. O Brics busca promover uma maior cooperação entre as nações do Sul Global e garantir um tratamento mais equitativo nas organizações internacionais. O Brasil assume a presidência do Brics e será sucedido pela Índia em 2026.