Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil, destacou em sua fala na cúpula do Brics que a procrastinação na reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) resulta em um mundo mais instável e perigoso. A declaração foi feita durante a abertura do evento, realizado no Rio de Janeiro.
Desafios Globais e Críticas à Governança
Lula também abordou questões como gastos militares, terrorismo e interventações no cenário global, particularmente as ofensivas israelenses e a instrumentalização da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Durante a sessão sobre Paz e Segurança, o presidente enfatizou que esta é a gestão do Brics que enfrenta os desafios mais difíceis em nível internacional.
Ele identificou um “colapso sem paralelo do multilateralismo” e sugeriu que o Brics é herdeiro do Movimento Não-Alinhado, promovendo a autonomia de países que não seguem cegamente os interesses ocidentais, especialmente dos Estados Unidos. Lula alertou para os riscos aos avanços nas áreas de comércio, clima e saúde global.
Críticas ao Papel do Conselho de Segurança
O presidente enfatizou que a falta de reforma no Conselho de Segurança da ONU leva a uma “perda de credibilidade e paralisia”. Composto por 15 membros, sendo cinco permanentes que detêm poder de veto, o Brasil já integrou o conselho de maneira temporária, sem poder decisório.
Além disso, Lula ressaltou que o Brasil tem reiterado sua demanda por uma reforma que inclua novos membros permanentes. Ele observou que a proposta ganhou força durante a presidência brasileira do G20 e destacou que a falta de consulta ao Conselho antes de ações bélicas é alarmante.
Questões de Segurança Internacional
O presidente criticou a utilização da AIEA, responsável por inspeções nucleares, mencionando as preocupações sobre o programa nuclear do Irã. Ele recordou a recente ofensiva israelense contra o Irã, que busca justificar suas ações com base em questões nucleares.
Lula também defendeu a integridade territorial do Irã e denunciou intervenções sem respaldo no direito internacional. Ele condenou atos terroristas, mencionando a situação na Caxemira e atos cometidos pelo grupo Hamas, mas também criticou a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza.
Papel dos BRICS na Governança Global
O presidente lamentou que a comunidade internacional abandonou o Haiti prematuramente, embora reconhecesse os avanços nas últimas oito décadas, como a proibição de armas biológicas e químicas. Segundo ele, é imperativo que o Brics atue para atualizar a governança internacional, refletindo a nova realidade multipolar do século XXI.
Ao discutir a reforma do Conselho de Segurança, Lula argumentou pela necessidade de torná-lo mais legítimo e representativo, destacando a importância de incluir novos membros permanentes da Ásia, África e América Latina. Para ele, essa reformulação é crucial para a sobrevivência da ONU.
Composição e Objetivos do BRICS
O Brics é composto por 11 países: África do Sul, Arábia Saudita, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, Índia, Irã e Rússia, representando uma significativa parte da economia mundial e da população global.
Os países parceiros, que não têm poder de voto, incluem Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã. O Brics apoia a cooperação entre nações do Sul Global e busca uma representação mais equitativa em órgãos internacionais, embora não funcione como uma organização formal com orçamento próprio ou secretariado permanente.
A presidência do Brics é rotativa, e o Brasil passará a liderança para a Índia em 2026.