O golpe militar de 1964 e a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023 apresentam não apenas semelhanças notáveis, mas também diferenças marcantes. Ambos os eventos são reflexos de uma tensão histórica entre as forças armadas e a democracia no Brasil.
Semelhanças entre os eventos
Os dois episódios foram marcados por intervenções de oficiais do Exército que se opuseram à soberania popular expressa nas eleições. Tanto em 1964 quanto em 2023, a ideia de que os militares deveriam guiar o destino do país prevaleceu, indicando uma continuidade na mentalidade militarista. Especialistas em ciência social concordam que esta persistência requer reformas urgentes nas Forças Armadas.
Outro ponto em comum é o protagonismo dos oficiais do Exército em ambos os casos, que se insurgiram contra a vontade popular validada nas urnas. Além disso, a adesão de setores do empresariado agrário em apoio aos movimentos golpistas foi uma característica em ambos os episódios, embora a intensidade e a forma desse apoio possam ter variado ao longo do tempo.
O conceito de inimigo interno também é uma semelhança significativa. Em 1964, a ameaça comunista era uma justificativa recorrente, enquanto em 2023 o discurso girou em torno de “marxismo cultural” e outras ideologias, com figuras como professores e artistas sendo colocadas como alvos. A adesão a uma política econômica neoliberal também foi uma constante, com o objetivo de transformar o Brasil de acordo com os interesses de grupos específicos.
Diferenças notáveis
Entretanto, existem diferenças cruciais entre os dois episódios. A primeira diz respeito ao contexto político. Em 1964, o Brasil estava no calor da Guerra Fria, envolvendo-se em uma série de revoluções na América Latina, enquanto em 2022 o país experimentava uma estabilidade política com alternâncias de poder mais geralmente reconhecidas. A sociedade brasileira também evoluiu, com uma consciência democrática que se fortaleceu ao longo das últimas décadas.
Outro aspecto é a falta de apoio externo no movimento golpista de 2023. Em 1964, a coesão entre a burguesia nacional e o apoio dos Estados Unidos foram fundamentais para a realização do golpe. Por outro lado, em 2023, observou-se uma divisão entre os setores empresariais, com figuras influentes demonstrando apoio a Lula e distanciando-se de Jair Bolsonaro.
Além disso, a resistência social também se manifestou de forma mais robusta em 2023. O conhecimento da história da ditadura militar e a consequente luta pela liberdade contribuíram para uma posição mais crítica da sociedade em relação a tentativas golpistas, o que não era tão presente em 1964.
Em suma, embora os paralelos entre o golpe de 1964 e a tentativa de 2023 sejam evidentes, as diferenças em termos de contexto histórico, apoio social e político, e os valores democráticos presentes na sociedade brasileira contemporânea caracterizam a complexidade desses eventos e exigem uma análise cuidadosa.