A série da Netflix aborda a adolescência e destaca problemas sociais contemporâneos que impactam fortemente os jovens. Entre eles, a cultura incel se destaca como uma subcultura digital preocupante que, nos últimos anos, tem se tornado mais influente e perigosa. Neste texto, vamos entender o que são os incels e como esse fenômeno se liga à trama da série.
Contexto da série e sua conexão com a misoginia
A narrativa de “Adolescência” inicia de forma impactante, com Jamie Miller, um garoto de 13 anos, preso sob a acusação de assassinar uma colega de escola. Ao longo dos episódios, acompanhamos um jovem solitário que se sente desconectado socialmente e acaba atraído para discursos de ódio encontrados em fóruns da internet. Esses espaços funcionam como câmaras de eco para ideologias misóginas, onde a violência contra mulheres é apresentada como uma forma de “justiça” para homens que se sentem rejeitados pela sociedade.
O que é um incel?
O termo incel provém da expressão inglesa involuntary celibate, que significa “celibatário involuntário”. Inicialmente criado na década de 1990 pela canadense Alana Boltwood para apoiar indivíduos com dificuldades em estabelecer relacionamentos, o conceito evoluiu para uma subcultura composta, predominantemente, por homens jovens que se sentem incapazes de se relacionar com mulheres. Esses indivíduos frequentemente direcionam seu ressentimento e frustração para as mulheres e a sociedade, alimentando discursos de ódio.
Incels nos ambientes digitais
A internet é o principal local de interação dos incels. Fóruns como 4chan, Reddit, Telegram e Discord servem como plataformas de radicalização e reforço de crenças misóginas e, muitas vezes, violentas. O anonymato proporciona um ambiente onde os usuários podem se expressar sem restrições, dificultando o controle das ideias extremistas. No Brasil, grupos como o Dogolachan têm promovido discursos de ódio que, em casos extremos, motivaram atos violentos, com o massacre de Suzano (2019) como exemplo.
A cultura incel e seus códigos
A subcultura incel é baseada em uma perspectiva distorcida das relações afetivas e sexuais. Eles acreditam que os homens “inferiores” são constantemente rejeitados por mulheres que buscam apenas os parceiros mais atraentes e bem-sucedidos, frequentemente referidos como “Chads”. Entre as crenças comuns à cultura incel está a regra 80/20, que sugere que 80% das mulheres estão interessadas somente em 20% dos homens.
Os incels desenvolvem uma linguagem própria, repleta de termos e símbolos que representam sua visão de mundo. Entre os principais conceitos estão:
– Red pill: o “despertar” para a verdade de que a sociedade favorece as mulheres.
– Blue pill: permanecer ignorante sobre as verdades enfrentadas pelos homens.
– Chad: o estereótipo do homem ideal, considerado o inimigo dos incels.
– Stacy e Becky: representações de mulheres, onde Stacy é idealizada e Becky é vista como mediana.
Estruturas da subcultura incel
A cultura incel se organiza em comunidades online que promovem ideais misóginos e muitas vezes violentos. Fóruns anônimos como 4chan e Dogolachan são conhecidos por sua linguagem críptica e conteúdo extremista, onde os usuários muitas vezes agem de forma hostil a novatos, espalhando ideologias prejudiciais.
Em resumo, a série “Adolescência” nos apresenta um retrato importante sobre a cultura incel e suas repercussões, revelando a interconexão entre a misoginia, isolamento social e a radicalização que pode ocorrer em ambientes digitais. O tratamento desse tema delicado é relevante para compreender os desafios que a sociedade enfrenta na luta contra o ódio e a violência de gênero.