Violão afinado. Família no palco. Aplausos ininterruptos. Foi nessas condições que Gilberto Gil subiu ao palco do Auditório Araújo Vianna na noite do último sábado, 4, para apresentar a turnê Gilberto Gil in Concert. Ao lado dos filhos e netos, o músico de 80 anos conduziu o público através de seus maiores clássicos. Outros dois shows lotaram o auditório, nas noites de sexta, 3, e domingo, 5.
O espetáculo começou ao som de Expresso 2222, do álbum homônimo, o quinto de estúdio do cantor baiano, lançado em 1972. A sequência foi Viramundo, do álbum Louvação (1967), com a mistura de MPB, samba e música regional brasileira – estilos característicos da música de Gil. Em Chiclete com Banana, também do Expresso 2222, o artista chamou o público para ecoar o “Bebop, Bebop, Bebop”.
Na primeira conversa com os presentes, Gil dá boa noite e lembra que não vinha à capital gaúcha há alguns anos. Um grito de “eu te amo” enche o Araújo, ao qual o cantor responde com um sorriso estampado no rosto e um “eu também te amo”, seguido de aplausos. “Sempre que essas manifestações de carinho e de apreço vêm de vocês pra cá, eu sempre devolvo, porque eu também amo vocês todos”, fala o artista.
“A gente tá aqui com alguns meninos lá de casa”, introduz Gil antes de apresentar sua banda – sua família. Bem, seu filho mais velho, no violão e guitarra, José, o filho mais novo, na bateria e percussão, e os netos João (filho de Nara, a primogênita do músico), no violão e baixo, e Flor (filha de Bela, a mais nova do clã), nos teclados e vocais, com apenas 14 anos.
O show continua com Upa, neguinho, da “amiga, cantora e intérprete Elis Regina”, nas palavras de Gil. A música do álbum Dois na Bossa n° 2, de 1966, é muito aplaudida pelo público gaúcho. Depois, outra releitura, dessa vez com É luxo só, canção de João Gilberto que ficou famosa na voz inconfundível de Gal Costa.
A próxima música trouxe a primeira participação vocal de Flor. Em Estrela, do álbum Quanta (1997), neta e avô dividem os versos “Há de surgir/Uma estrela no céu/Cada vez que ocê sorrir/Há de apagar/Uma estrela no céu/Cada vez que ocê chorar”. Os aplausos entusiasmados ao fim da música mostram a aprovação do público com a participação de Flor, que também foi filmada pelos diversos celulares que se levantaram quando a voz da menina surgiu.
“Essa canção é uma canção que foi feita depois de um tempo de muita intensidade amorosa e amorada, mas que não deu certo, é uma canção de separação”, o cantor introduz Drão, do álbum Um Banda Um (1982). Gil conta no livro Todas as letras (1982) – que reúne detalhes sobre as cerca de 470 músicas de sua autoria – , que a canção foi composta para sua terceira esposa, Sandra Gadelha, cujo apelido Drão foi dado por Maria Bethânia.
Trazendo a bossa nova, a composição de Tom Jobim, letrada por Vinícius de Moraes, a clássica Garota de Ipanema, é a próxima do repertório. Gil canta os primeiros versos, mas o destaque da música é Flor, que alterna entre português e inglês na canção. Os últimos versos são alternados entre Gilberto e Flor, e o avô encerra a música com um pedido de palmas para a neta, com um orgulhoso “Flor”.
Pela primeira vez durante o show, Gil se levanta para as animadas Palco, Back in Bahia – que conta com um solo de João na guitarra que levanta o público -, Maracatu atômico e Extra. Já começando embalada pelas palmas, Andar com fé, do Um banda um, puxou gritos e aplausos e terminou apenas ao som do coro e palmas da plateia.

Composta em 1969 como single, Aquele abraço dá sequência à noite. A música foi escrita como uma espécie de despedida do Brasil, antes do período em que Gil e Caetano Veloso foram exilados em Londres, quando o Brasil vivia sob o domínio dos militares no período da ditadura. A canção teve três diferentes edições: uma em single, com fade out aos 4 min e 35 seg; no disco Gilberto Gil, que tem 5 min e 23 seg; e outra em um relançamento do álbum em CD, com uma “versão integral” de 7 min.
“Um Bom Marley pra vocês”, fala Gil antes dos primeiros acordes de Stir It Up, do álbum de reggae Babylon by Bus (1978). Em Tempo rei, do Raça Humana (1984), a luz se acende na plateia enquanto Gil vai de um lado para o outro no palco e agradece a Porto Alegre pela companhia durante a noite.
No bis, Madalena, do Back in Bahia (1972), fez o público e o próprio artista dançarem. “Quero ouvir a tribo”, diz Gil ao começar a última do espetáculo, Toda menina baiana, do disco Realce (1979). A plateia canta e pula gritando de volta para o palco os conhecidos versos “Toda menina baiana tem um santo, que Deus dá/Toda menina baiana tem encantos, que Deus dá/Toda menina baiana tem um jeito, que Deus dá/Toda menina baiana tem defeitos também que Deus dá”.
“Muito obrigada, a vocês todos. João Gil, Flor Gil, José Gil e Bem Gil e o público lindo de Porto Alegre”, se despede do palco o cantor, após um show de mais de 2h que ficará na memória de quem teve a oportunidade de presenciar a apresentação ao vivo de algumas das mais emblemáticas canções brasileiras, na voz de um dos embaixadores da cultura nacional.






