O dia 15 de janeiro marca os 73 anos de um incidente que marcou a história policial do Rio Grande do Sul. Em O Incendiário (Libretos Editora, 292 páginas, R$ 46,00), Rafael Guimaraens recupera a história de dois incêndios em Porto Alegre que destruíram o Tribunal de Justiça, prédio gêmeo do Theatro São Pedro, em novembro de 1949, e a Repartição Central de Polícia, em janeiro de 1950. Entre os milhares de processos e inquéritos incinerados encontravam-se escândalos financeiros e um rumoroso caso no qual 53 policiais eram acusados de promover uma rapinagem nas residências de súditos alemães durante a 2ª Guerra.
Acossada pelas desconfianças da sociedade, a Polícia apresentou o suposto incendiário, um falsário espanhol chamado Manoel Gonzales Aragón – vulgo Major Aragón, pois se vestia de oficial do Exército para aplicar alguns golpes. No entanto, quando ocorreram os incêndios o rocambolesco personagem encontrava-se preso em São Leopoldo.
Resultado de uma ampla pesquisa, o livro conta a inusitada trajetória de Aragón, sua carreira criminosa em várias cidades do país, e se detém nas escandalosas investigações sobre escândalos financeiros e corrupção policial que ocupavam as manchetes dos jornais à época dos incêndios. Policiais, ladrões, jornalistas e autoridades giram em um redemoinho, no qual o pitoresco e o trágico convivem em uma narrativa repleta de surpresas até o desfecho imprevisível.
Lançado no final do ano passado, o livro é ilustrado com fotos dos locais e personagens retratados e tem um de seus trechos principais narrado em forma de HQ, com o traço de Edgar Vasques. O projeto em torno de O Incendiário terá desdobramentos no decorrer deste ano, como a produção de um podcast em parceria com o Nonada Jornalismo. Serão dois episódios, com duração média de 40 minutos, tratando dos conceitos memória e literatura de realidade, presentes no espírito da obra. Também está prevista, no decorrer do primeiro semestre, a doação de uma parcela da tiragem para a Secretaria de Estado da Cultura, Rede de Bibliotecas dos Presídios (ligada à Susepe) e Rede Cirandar, visando a democratização de acesso ao produto literário e a realização de oficina prática com detentos do sistema prisional de Porto Alegre.