O Brasil enfrenta um cenário alarmante de desmatamento em decorrência da demanda por veículos elétricos (EVs) na União Europeia. Projeções indicam que, se o atual mercado se mantiver, cerca de 13,9 mil hectares — equivalente a 46 campos de futebol — de florestas brasileiras podem ser perdidos mensalmente nos próximos 25 anos.
Um estudo realizado pelas organizações Fern e Rainforest Foundation Norway revela que a extração de minerais essenciais para a fabricação das baterias dos EVs está por trás desse impacto ambiental significativo. O relatório foi divulgado durante o Fórum da OCDE sobre Mineração Responsável.
O papel dos veículos elétricos na sustentabilidade
Os veículos elétricos, que operam com baterias ao invés de combustível fóssil, são fundamentais para que a UE alcance suas metas de neutralidade de carbono até 2050, conforme estipulado no Pacto Verde Europeu. A demanda por esses veículos traz consigo a necessidade de minerais críticos, como lítio, cobre, níquel, cobalto, bauxita, ferro e manganês.
A demanda global por metais necessários para a transição energética poderá atingir aproximadamente 23 milhões de toneladas por ano até meados deste século. Para decidir o impacto no desmatamento, os pesquisadores analisaram a supressão de florestas durante a extração desses recursos.
Implicações globais da mineração
As baterias mais utilizadas no mercado europeu, as NMC 811, podem resultar na destruição de 118 mil hectares de florestas globalmente para atender às necessidades da Europa até 2050. Isso representa uma devastação contínua equivalente a 18 campos de futebol a cada dia.
O estudo avaliou três cenários distintos de desmatamento. Nos primeiros dois, onde as baterias NMC 811 predominam, a Indonésia seria severamente afetada, com 42% a 63% do total de desmatamento, enquanto o Brasil responderia com 18% a 11%. No terceiro cenário, onde as baterias de lítio, ferro e fosfato são utilizadas, o impacto recai majoritariamente sobre o Brasil, que representaria 36% do desmatamento, com a Indonésia fora do quadro.
Sustentabilidade e direitos humanos
Perrine Fournier, ativista da Fern, destaca a importância de promover uma transição sustentável no setor de transportes sem comprometer as florestas e as comunidades locais. O relatório também ressalta que 54% dos minérios essenciais estão localizados em regiões com povos indígenas, e 70% nas proximidades de comunidades de agricultura familiar.
A mineração resulta, frequentemente, em deslocamentos forçados de comunidades vulneráveis, que perdem o acesso a recursos naturais essenciais, como a água. Todavia, o estudo sugere que é possível mitigar essa situação. A adoção de tecnologias alternativas e novas abordagens de mobilidade pode reduzir significativamente a depender de minerais, diminuindo a estimativa de desmatamento de 118 mil para 21,3 mil hectares, caso inovações nas baterias e práticas como caronas e compartilhamento de veículos sejam implementadas.
Essa conscientização e ação são cruciais para garantir que a transição energética ocorra de maneira responsável e sustentável, beneficiando tanto o meio ambiente quanto as comunidades ao redor do mundo.