Apesar de algumas pessoas não gostarem de café, não há bebida mais popular no Brasil. Há quem goste de café forte, outros gostam de café fraco, com ou sem açúcar, e há alguns que fazem questão dos chamados cafés “extrafortes”. Mas será que o café brasileiro é de qualidade? E por que há tanta variação de preço entre as várias marcas?
Para responder a essas perguntas, é preciso entender que nem todo café é igual. Além da grande variedade de espécies dentro de um mesmo tipo de café, como os tipos diferentes de café arábica, por exemplo, há diferentes formas de cultivar, colher, secar, processar, torrar e disponibilizar os cafés ao público consumidor. Nesse texto vou destacar apenas as variações mais comuns, que você pode encontrar com facilidade nos supermercados e nos sites especializados na internet. Refiro-me aos três tipos mais usuais de café: o café de supermercado, quase sempre vendido na opção torrado e moído, o café gourmet, que pode ser comprado em grãos e também moído, e os cafés especiais, quase sempre vendidos em grãos (embora alguns produtores ofereçam a opção de mandar o produto moído.
O café de supermercado, normalmente comercializado em embalagens de 500 gramas, é o café que em geral mistura diferentes variedades de grãos, trazendo torras mais escuras. A própria legislação que normatiza esses cafés permite a presença de impurezas como folhas, galhos, flores, grãos quebrados etc. A escolha da torra mais escura não é casual, sendo usada para mascarar as imperfeições e impurezas, todas escondidas em um pó bastante escuro. A qualidade desses cafés é bastante baixa, independente da marca, e o seu sabor é mais intenso e amargo, sendo quase impensável tomar essa bebida sem açúcar. O preço costuma ser mais acessível e a variedade de opções é enorme, mas o processamento de grãos de baixa qualidade aliado às impurezas permitidas, fazem desses cafés uma opção que não realça qualquer característica do café. Em outras palavras, é barato, mas é ruim.
O café gourmet apresenta uma qualidade superior àquela dos cafés de supermercado, com uma seleção melhor dos grãos e com torras mais equilibradas. Não é comum a torra tão escura, por não haver necessidade de mascarar impurezas, que são pouco presentes e em quantidade bem pequena. Quando são vendidos em grãos, algo comum de se achar mesmo em supermercados, os cafés gourmet quase não apresentam impurezas, limitando-se à presença eventual de algum grão quebrado. Esses cafés são produzidos com vários grãos específicos, trazendo um sabor mais suave e complexo e já se pode perceber notas frutadas ou florais em sua degustação, dependendo da variedade. O preço é intermediário, normalmente mais elevado do que os cafés comuns, mas ainda acessível. A forma de processamento e de torra desses cafés é bem mais cuidadosa, buscando realçar as características da origem do grão escolhido, o que possibilita a degustação sem o uso de açúcar ou adoçante, embora muitos ainda prefiram manter o hábito de adoçá-lo.
O café especial, que em tempos passados era todo exportado e ausente no mercado nacional, é o que traz maior qualidade, seja na escolha dos grãos, no tratamento pós-colheita, na torra e mesmo na sua classificação. Para ser especial, o café precisa alcançar uma pontuação superior a 80 pontos na escala da Specialty Coffee Association (SCA), o que exige que seu processo de produção seja mais rigoroso. Em termos de sabor, além da variedade advinda de seu tipo, há uma maior complexidade percebida na degustação, com notas que podem ser de frutas, flores, chocolate, caramelo, entre outras nuances que podem variar de acordo com a origem e tipo de processamento. Por conta de todo esse cuidado, o preço é naturalmente mais elevado e, comumente, é um café comercializado em grãos torrados. Essa diferença de preço é justificada não só pela qualidade da bebida, mas por todo o processamento cuidadoso, que vai do cultivo à torra, garantindo uma qualidade máxima.
Comparando os três tipos de cafés, podemos dizer que o café de supermercado tem qualidade bastante baixa, sabor intenso e amargo, demandando o uso de adoçante ou açúcar, preço acessível e processamento pouco controlado. Já o café gourmet tem qualidade média, sabor mais suave e complexo, preço intermediário e processamento controlado. O café especial, por sua vez, tem qualidade alta, sabor extremamente complexo, quase sempre dispensando o uso de açúcar, preço mais elevado e processamento rigorosamente controlado.
Qual deles você já provou? Qual você acha melhor? Você tem alguma marca de preferência? Pessoalmente, digo que quem já tomou um café especial feito com a técnica correta, seja em que método for, não consegue voltar aos cafés de supermercado. Nem que seja no coffee break de algum evento.