Nesta segunda-feira, 17, famílias rurais sem terra ocuparam uma área da empresa Suzano no quilômetro 255 da estrada que liga Conceição da Barra a Itaúnas, no norte do Espírito Santo. A ação, organizada pelo recém-criado Movimento Resistência e Luta pela Terra (MRLT), tem como objetivo reivindicar a área, atualmente utilizada para o cultivo de eucalipto, e pressionar por políticas de reforma agrária.
Agnaldo Cardoso, um dos líderes da ocupação, destacou que o movimento surge com a missão de lutar por terras improdutivas, devolutas ou onde haja exploração de trabalho escravo. “Nosso negócio é produzir comida saudável para colocar na mesa dos capixabas”, afirmou. A ocupação também conta com a participação de mulheres, como Rosilene Faqueiro da Cruz, do acampamento Ondina Dias, em Nova Venécia. Ela denunciou a grilagem de terras pela Suzano e reforçou a importância da luta por um pedaço de terra para garantir alimentação saudável e dignidade às famílias. “Nós merecemos ter um pedaço de terra para cuidar das nossas famílias”, disse.
A militância da APS – Ação Popular Socialista do PSOL também esteve na ocupação prestando solidariedade e apoio ao movimento e as famílias, em post nas redes sociais afirmaram: “Estamos do mesmo lado na luta contra a grilagem de terras e a monocultura do eucalipto, que destrói o solo e expulsa comunidades”.
Governo Lula e a crise dos alimentos: medidas paliativas e desafios estruturais
Enquanto isso, a alta dos preços dos alimentos continua a pressionar a mesa dos trabalhadores brasileiros. O governo Lula anunciou medidas como a redução de alíquotas de importação para itens da cesta básica e a ampliação dos estoques públicos de alimentos. No entanto, especialistas alertam que essas ações, embora necessárias, não enfrentam as causas estruturais da crise alimentar.
Em nota oficial a APS apontou que a inflação dos alimentos está diretamente ligada à hegemonia do agronegócio voltado para a exportação, à especulação financeira sobre terras e estoques, e à falta de controle público sobre a produção e distribuição. “Zerar impostos de importação pode aliviar momentaneamente o custo de vida, mas reforça a dependência externa e a vulnerabilidade à inflação importada”, afirma a nota da APS.
A organização defende uma reforma agrária radical como solução estrutural para a crise. Entre as propostas estão a expropriação de latifúndios, a distribuição de terras para a agricultura camponesa, o controle estatal sobre estoques de grãos e insumos, e investimentos massivos em práticas agroecológicas. “A única resposta à crise alimentar é a ruptura com o modelo concentrador do agronegócio”, reforça a APS.
A ocupação em Conceição da Barra e a crise dos alimentos refletem um desafio nacional que continua no centro do debate: a luta por reforma agrária, a defesa de um modelo agrícola sustentável e justo.