O uso das telas e a conexão constante à internet se tornaram partes inevitáveis do cotidiano moderno. A prática de utilizar dispositivos eletrônicos em todas as situações, desde o momento de acordar até refeições ou antes de dormir, levanta questões sobre os impactos desse comportamento. Embora seja comum associar o uso prolongado da tecnologia ao vício, especialistas afirmam que, na maioria dos casos, o problema pode ser atribuído a uma falta de educação digital, e não necessariamente a uma dependência patológica.
O Instituto Delete, pioneiro no Brasil e no mundo em estudos sobre o impacto da tecnologia na saúde, foi criado em 2013 dentro do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A instituição desenvolve orientações para o uso consciente das telas e atua na identificação e tratamento da dependência digital, com foco especial em questões como nomofobia e comportamento associado ao uso excessivo da tecnologia.
Ao longo dos anos, observou-se um aumento significativo na interação das pessoas com dispositivos digitais, especialmente após a popularização dos smartphones. Embora o uso frequente das tecnologias seja natural devido às exigências do trabalho, do lazer e de outras atividades cotidianas, o problema surge quando a dependência ultrapassa o limite funcional e se torna patológica. Esse tipo de dependência está geralmente associado a transtornos mentais preexistentes, como ansiedade, depressão ou compulsão, que amplificam o uso desmedido da tecnologia.
No contexto atual, muitos indivíduos buscam orientação do Instituto Delete por perceberem prejuízos em diferentes áreas da vida, como no trabalho, nas relações familiares ou nos estudos. Conforme diagnosticado, esses casos nem sempre se tratam de vício no rigor técnico da palavra, mas de práticas inadequadas que podem ser revertidas com educação e conscientização digital.
A nomofobia, definida como dependência patológica da tecnologia, é uma condição em que o uso excessivo de dispositivos está relacionado a transtornos psicológicos ou psiquiátricos já existentes. Esse uso intensificado tende a gerar prejuízos significativos em diversas áreas da vida pessoal e social. Para tratar o problema, é essencial uma abordagem integrada que inclui avaliação psicológica, orientações para o uso mais dirigido das tecnologias e, em casos específicos, tratamento psiquiátrico.
Outro instrumento de estudo são os impactos dos jogos e das apostas online no comportamento humano. Essas atividades, estruturadas para estimular uma sensação de prazer no usuário por meio da liberação de substâncias químicas no cérebro, como dopamina e serotonina, podem escalar para dependências severas, causando perdas financeiras, desestruturação familiar e outros prejuízos.
Um dos pontos cruciais abordados pelos estudos do Instituto Delete é o uso excessivo da tecnologia por crianças e adolescentes. Os menores de idade ainda demandam supervisão contínua de pais ou responsáveis para garantir um convívio saudável com as telas. A falta de orientação adequada nesse público pode levá-los a situações de risco, como exposição a indivíduos mal-intencionados ou a conteúdos impróprios.
Nesse contexto, a implementação de leis que restringem o uso de celulares nas escolas surge como um avanço significativo na educação digital. Limitando a utilização dos dispositivos exclusivamente a fins pedagógicos sob supervisão, essa medida promove a socialização, o desenvolvimento de habilidades interpessoais e a prática de atividades esportivas e culturais, equilibrando o uso da tecnologia e outros aspectos do aprendizado.
A educação digital é, portanto, uma solução fundamental para prevenir o uso desmedido da tecnologia. Hábitos simples, como restringir horários de acesso, estabelecer regras de uso e priorizar o tempo offline, podem ajudar usuários de todas as idades a navegar pela era digital de forma mais responsável e saudável, reduzindo o risco de dependências e promovendo um equilíbrio saudável entre conexão e desconexão.