O aumento dos preços do café é uma realidade que deverá se manter nas próximas semanas, especialmente até a colheita da safra deste ano, prevista para abril ou maio. A Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) aponta que os eventos climáticos têm sido a principal causa desse aumento. Além disso, o crescimento do consumo global, com destaque para a China, tem pressionado ainda mais os preços.
Impacto climático e consumo global
Os altos preços do café devem persistir pelos próximos dois a três meses, segundo previsões da Abic. Após esse período, a expectativa é de uma leve estabilização, mas a queda nos preços só deve ocorrer com a safra do ano seguinte. O Brasil, que representa quase 40% da produção mundial de café, possui um histórico recente de desafios climáticos que impactaram severamente a lavoura.
Os recordes de 2020 foram seguidos por dificuldades em anos posteriores, com o fenômeno da geada em 2021 destruindo quase 20% da safra de grãos arábica. Em 2022, a recuperação não foi suficiente, e em 2023 as consequências do El Niño, que causou estiagem e altas temperaturas, acentuaram a situação.
Consequências para os produtores e preços
De acordo com Pavel Cardoso, presidente da Abic, o acúmulo de problemas climáticos nos últimos quatro anos, aliado ao aumento da demanda, tem contribuído para a escalada nos preços. Os custos de produção aumentaram significativamente, levando a indústria a repassar cerca de 38% desse custo adicional ao consumidor.
Esse cenário tem refletido nas cotações internacionais, como evidenciado pela Bolsa de Nova York, onde os contratos de café arábica têm alcançado valores recordes, com destaque para uma recente alta que atingiu US$ 3,97 por libra-peso.
Expectativas e volatilidade de preços
A Abic projeta que a safra de 2024 possa trazer um alívio, com a possibilidade de retorno aos níveis de oferta do recorde de 2020. Entretanto, até que isso ocorra, os consumidores continuarão a enfrentar preços elevados, já que parte dos aumentos de custo ainda precisa ser repassada.
Em relação ao consumo, os dados mais recentes mostram um crescimento de 1,11% no Brasil entre novembro de 2023 e outubro de 2024. O país segue como o maior produtor e exportador de café e o segundo maior consumidor mundial, com uma média de 1.430 xícaras por ano por pessoa.
No mercado interno, a indústria de café torrado faturou R$ 36,82 bilhões no último ano, uma variação significativa em comparação com 2023, refletindo os aumentos nos preços. Os cafés especiais e gourmet também mostraram aumentos substanciais, com variações que chegam a 39,36% para cafés tradicionais e extrafortes.
Ao longo dos últimos quatro anos, a matéria-prima do café teve um aumento expressivo de 224%, enquanto o preço ao consumidor do café torrado e moído registrou um acréscimo de 37,4%, superando as variações da cesta básica. Todos esses fatores mostram que a alta no preço do café é um fenômeno complexo, impulsionado por influências climáticas e mudanças na demanda global.