13 de dezembro de 2025
sábado, 13 de dezembro de 2025

Setembro amarelo e crise de saúde mental

Com a chegada de setembro, pipocaram diversos conteúdos sobre saúde mental. É um movimento importante, mas que só toma conta das redes e das conversas de boteco neste mês, e não o ano todo. 

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Em uma matéria que saiu aqui no portal O Capixaba, que trazia uma pesquisa realizada pelo Serasa em parceria com a Opinion Box diz que “84% dos brasileiros já tiveram a saúde mental afetada por questões financeiras. […] que 70% dos entrevistados já perderam o sono devido a preocupações monetárias”

Que dinheiro é uma preocupação recorrente da classe trabalhadora, não é novidade. Afinal, o custo de vida, alimentos, aluguéis, transportes, tudo aumenta um pouco mais de preço com o passar dos anos. 

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Mas não vamos falar apenas de dinheiro. Quando pensamos em saúde mental, associamos à terapia, psicoterapia, ou em buscar ajuda de algum profissional da área da Psicologia, mas não é só isso. E apesar de parecer que a pandemia ajudou as pessoas a procurarem ajuda, a realidade é bem diferente. Se vamos falar de saúde mental, temos que falar de saúde física, tempo para viver, dinheiro, trabalho e convivência em comunidade. Ou seja, é impossível não falar do fim da escala 6×1. 

Em um debate do Observatório de Análise Política em Saúde, com o nome “O fim da jornada 6×1 é uma questão de saúde”, o autor Thiago Lopes Cardoso Campos escreve que a escala 6×1 “é o retrato de um sistema que perpetua desigualdades, aprofunda injustiças e compromete a saúde física, mental e social de milhões de brasileiros. […] Além dos impactos na saúde individual, as consequências da escala 6×1 reverberam na sociedade, tornando-se um problema de saúde pública”. 

E para provar que o modo de trabalho atual, que se deve muito pelo tipo de jornada exploratória 6×1, por diversas pressões para bater metas, produzir mais do que aguentamos, dos ambientes abusivos de trabalho, a falta de amparo da empresa, o medo recorrente de perder o emprego, até de não saber dizer não e impor limites no trabalho, não é somente um modo falido – É no fim uma crise no “mercado de trabalho”, ou melhor, é mais uma crise do capitalismo. 

Vimos diversos jornais noticiarem a “crise de saúde mental”, mas será que na verdade, agora olhamos mais para os casos de ansiedade, depressão ou burnout sem dizer que “é frescura”?! 

A G1 publicou em março de 2025, os registros de 2024 que revelaram a dita “Crise de saúde mental: Brasil tem maior número de afastamentos por ansiedade e depressão em 10 anos”. Ainda me surpreende o distanciamento em dizer, mesmo que indiretamente, que o que importa é o “afastamento”, e não as pessoas que precisaram se afastar do trabalho por não estarem bem. Apesar da desumanização, a matéria traz os dados do Ministério da Previdência Social, que mostra um aumento de 68% nos afastamentos por transtornos mentais em 2024, sendo o primeiro ansiedade, seguido por depressão, depressão recorrente, transtorno bipolar, vício em drogas, reações ao “stress” grave e transtornos de adaptação, esquizofrenia, alcoolismo, vício em cocaína, e por fim psicose. 

Nessa lista não temos o burnout, mas isso não isenta de ocorrer. No blog da PUC Minas, publicaram uma matéria mais completa sobre burnout e escala 6×1, com o nome “O peso da escala 6×1 na vida e na saúde das trabalhadoras”. O foco é em mulheres, para além de um feminismo (como alguns podem acusar), os dados revelam que independente de qual doença mental, as mais atingidas são mulheres. A fonte trazida pela PUC Minas, que é o Ministério da Saúde, mostra que dos números de casos de atendimento no SUS por burnout, 28,2% são homens e 71,8% são mulheres. Dos afastamentos noticiados pelo G1, 170.980 são homens afastados, enquanto 301.348 são mulheres afastadas – sendo em ambos a ansiedade o transtorno mais comum. 

Para nós, mulheres, falar de jornadas duplas, triplas e por diante é comum. Somos ensinadas desde a infância a cuidar da casa, dos filhos, da família, e trabalhar. Enquanto ocasionalmente conhecemos um homem que é dependente da família, da mãe, ou da esposa. O modelo patriarcal se encarregou muito bem de deixar homens dependentes de mulheres, como crianças, mas atacou diretamente aquilo que os homens consideram como “viril”. Por isso, e outros fatores, também vivemos uma crise da masculinidade no mundo, com ascensão de grupos masculinistas, red pills, legendários, incells e qualquer outro que parecer ressentido. 

Então como ser saudável mentalmente? Não existe resposta simples, ainda mais dentro do capitalismo. Nossa “liberdade” é um dia de descanso para buscar ajuda, o resto trabalhamos para alimentar o capital que nada produz, a não ser destruição do planeta, dos nossos corpos e mentes. 

No fim, não dá pra falar de setembro amarelo sem falar que:

  • Precisamos de condições melhores de trabalho, começando pelo fim da escala 6×1;
  • Salários dignos para não passar noites em claro, começando com equiparação de impostos, taxando os super ricos e isentando quem recebe o mínimo para sobreviver;
  • Políticas públicas de amparo para transtornos mentais, começando com o fortalecimento do SUS para atendimentos especializados no que tange a mente;
  • Tempo para viver, fazer exercícios, sair com os amigos e família;
  • Precisamos de Soberania, que vá além das taxações do Trump, a começar com a proteção das florestas e cidades brasileiras que serão trituradas por instalações de Data Centers, vistas como fomento de empregos, mas só consumiram recursos naturais e humanos até que não haja mais nada para sugar;
  • Precisamos de uma estrutura onde todos participem e não dessa estrutura mofada capitalista, onde o rico fica mais rico e o pobre fica cada vez mais pobre.

Precisamos de muito, a luta é longa e contínua, pois quem tem tempo para buscar saúde mental viajando pra Itália, que não trabalha, mas investe milhões em campanhas políticas para receber algo em troca, esses não se preocupam se você e eu somos produtivos ou estamos saudáveis, porque tem outros para ocuparem nossos postos de trabalho e manter a roda girando. Se você não tem milhões ou bilhões para gastar com um ou mais de um político, leia-se, candidatos a vereadores, prefeitos, governadores, deputados estaduais ou federais, você tá na mesma barca dos trabalhadores da escala 6×1.

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Letícia Cristina
Letícia Cristina
Letícia Cristina é bibliotecária, empreendedora, costureira e amante dos cuidados capilares.

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