12 de dezembro de 2025
sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

A eterna ilusão de ser produtivo

Você já deve ter ouvido que fulano foi demitido por não ser produtivo, ou que home office não é trabalhar, ou qualquer coisa que minimize a nossa força de trabalho. Semana passada vimos uma demissão em massa com nome chique – lay off do Itaú.

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Por acaso estava vendo um corte da Live do Suco de Brasil, do comediante Murilo Moraes, o vídeo em questão tem o título de “ITÁU DEMITE MAIS DE MIL PESSOAS POR INATIVIDADE”, e assim busquei notícias sobre o assunto. Mas o que não esperava eram manchetes, que mostram nitidamente o viés político econômico desses veículos de comunicação. 

Por exemplo, mais à direita e apoiando o Itaú tem o Jornal Metrópoles, com a manchete “Alguns demitidos em home office cumpriam só 20% da jornada, diz Itaú”, ou da CNN que diz “Itaú faz demissóes por baixa produtividade no trabalho remoto”. Como o tema tomou conta das redes sociais e dos jornais, com o tempo começou a aparecer manchetes como do Monitor Mercantil: “Demissões no Itaú: redes sociais escancaram o paradoxo contemporâneo da produtividade” e é aqui que começam a aparecer os trabalhadores demitidos, depoimentos e feedbacks. Ainda no hype do tema a UOL publicou uma matéria em Economia com o título “Demitidos do Itaú reclamam de falta de feedback e frieza nos desligamentos”, a BBC News Brasil também não ficou para trás e publicou um depoimento: “Trabalhei sete dias seguidos e até de madrugada, diz demitido do Itaú em home office”. Mais à esquerda, o Sindicato dos Bancários fez a sua própria matéria defendendo os trabalhadores demitidos: “Itaú demite cerca de mil bancários em home office sem qualquer advertência prévia ou diálogo com o Sindicato”.

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Trouxe esse caso da demissão em massa do Itaú para debatermos o que é produtividade. De acordo com o banco foi a falta de cliques e atividade nos notebooks da empresa, mesmo que no bolo dos trabalhadores demitidos, alguns bons trabalhadores fossem mandados embora junto. Mas preciso adicionar aqui a análise da Luciana Azevedo, que fez um vídeo no canal de YouTube RH Sincero, com o nome “Motivos bombásticos de DEMISSÃO EM MASSA”. Resumindo, para chegarmos na produtividade, as demissões em massa servem para os trabalhadores aceitarem salários mais baixos, que não funciona só para o Itaú, mas para todas as empresas que estão em volta dos mesmos serviços, além de claro, causar um ambiente de competição entre os trabalhadores que permaneceram na empresa, aceitando trabalhar mais, admitir funções que não estão previstas e se sobrecarregar para tentar manter o emprego. 

A culpa não é dos trabalhadores, apesar dos papos que ouvimos em corredores de que “home office é pra quem não trabalha”, ou que “as novas gerações não querem trabalhar”, ou qualquer argumento furado desse tipo. Toda vez que escuto algum argumento desse não consigo evitar de pensar que falta mais empatia pelo trabalho realizado pelo outro. Afinal, só você sabe como é o seu trabalho, e só eu sei como é o meu trabalho.
Mas se falamos de produtividade, vários trabalhadores podem se identificar com outra frase, como: preciso ser mais produtivo, mas estou cansado. Ora, quem não está cansado (a)?! Talvez quem não pegue condução de 1 a 4 horas de trânsito, dependendo da cidade. Quem não precisa cumprir expediente. Quem não precisa vender a força de trabalho para se sustentar. Quem não tem grandes responsabilidades. 

Já falei outras vezes sobre produtividade, mas esse artigo nasceu de uma ideia que surgiu lendo uma postagem do perfil @muitoalemdaterapia, mantido pela Késia Rodrigues, psicanalista. O que me chamou a atenção foi a frase “Dar conta de tudo é um delírio capitalista!!!”, com a atenção capturada, li a legenda, que vou reproduzir aqui alguns trechos, porque vale a pena acompanhar o conteúdo da Késia:

“A farsa de que podemos dar conta de tudo, fazer tudo, que tudo está sob o nosso alcance, é uma distração que nos impede de alcançar a nossa consciência política e social.
Caímos neste delírio, muito bem estruturado pelo capitalismo, e adoecemos nesta tentativa fantasiosa de um fazer incessante e altamente produtivo.
Por vezes, eu ouço na clínica as queixas e o adoecimento por não dar conta (ou por tentar dar conta) de TUDO. […]
Nisso de tentarmos dar conta, não nos damos conta do que realmente queremos, desejamos e somos. Acabamos nos perdendo por essa ânsia de ter TUDO, que é inalcançável.
Como Ailton Krenak nos diz: a vida não é útil!
Dar conta de tudo não é viver, é se submeter ao adoecimento!”
Késia Rodrigues – Muito Além da Terapia

De tempos em tempos releio essa postagem, pois dar conta de tudo é algo que cobram de nós, generalizo porque a minha dor também pode ser a sua. Podem cobrar no trabalho, em casa, nas amizades, nos relacionamentos, basicamente em qualquer lugar que tenha pessoas. As pessoas adoram histórias de superação, de gente que “dá conta de tudo”, mesmo que só nas aparências. Já tem um tempo que venho falando como o capitalismo nos adoece, mas falar isso é uma luta constante. Pautei minha vida em “ser útil”. Então ler a frase do Ailton Krenak “a vida não é útil!”, faz parte de um processo de cura pra mim. E para além da terapia, de leituras e estudos, se libertar de crenças que crescemos ouvindo, que quem quer vai atrás, ou alguma frase de coach, mesmo que usando as nossas religiões para pautar algo que é mera opressão, esse libertar demora, mas vale a pena a cada dia que passa. 

Não basta ser produtivo no capitalismo, é preciso se doar, adoecer e morrer no caminho. Mesmo que seja produtivo, pode simplesmente ser demitido com a desculpa de “baixa produtividade”, e você trabalhou 7 dias seguidos, de madrugada e não recebeu a recompensa que queria ou que merecia. Será que existe mesmo essa tal meritocracia?

Que possamos ser livres da ilusão de ser produtivo(a). Que possamos viver mais do que trabalhar, viver bem! 

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Letícia Cristina
Letícia Cristina
Letícia Cristina é bibliotecária, empreendedora, costureira e amante dos cuidados capilares.

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