Roupas com história

Sempre gostei de moda e brechós, até aprender a cortar e costurar. Quando finalmente entendi a complexidade de produzir uma peça de roupa, passei a valorizar ainda mais as roupas que já tinha, as que comprava e as que costurava. Hoje dou aula de corte e costura na minha igreja, sou professora voluntária, pois acredito que do mesmo modo que entrei no curso como aluna, poderia contribuir ensinando, do mesmo modo que as professoras que me ensinaram a cortar e costurar.
Fiz essa introdução para falar sobre “Roupas com história”. Você não precisa saber como costurar para ter uma roupa que conta uma história. Essas roupas que passam de mãe para filha, de irmã para irmã, ou entre amigas contam histórias e fortalecem vínculos.
Mas neste artigo quero contar sobre duas roupas, que pra mim, contam muitas histórias. A primeira é um vestido meio lilás, meio azul, com um corte clássico de época, que pertenceu a minha avó por parte de pai. Ainda sirvo no vestido, mas mesmo se não servir mais em algum dia, gostaria que o vestido ainda permanecesse na família, pois foi o vestido que minha avó usou no seu segundo casamento. Para mim, este vestido carrega não só a lembrança desse dia feliz, mas a trajetória da minha avó Clarice. Minha avó faleceu em 2004, há mais de 20 anos, então de algum modo o vestido me traz as boas memórias e um senso de continuidade da força das mulheres da família.
Agora, a segunda roupa, também é um vestido. É um recorte de vestido envelope, com bolsos e uma estampa bonita. Este vestido foi feito por uma mulher da família, por parte de mãe, não sei ao certo se foi uma tia ou a minha avó materna. Mas o que sei, é que foi um vestido que passou pela minha mãe e por uma prima, na época que passou por elas foi em período de gravidez, já que o vestido é envelope e soltinho. Deve ser um vestido com mais de 20 anos? Acredito que sim, só minha mãe para comprovar os fatos neste artigo. Assim como o primeiro vestido, também sinto o senso de continuidade das mulheres da família, mas com um toque especial, como um empurrão para seguir em frente e escrever minha história como minha mãe e minha prima.
Tenho muitas roupas que foram da minha irmã, da minha mãe, de amigas, de brechós, do bazar da igreja, e elas também têm roupas que já foram minhas. A história da roupa não acaba com uma pessoa, continua até o tempo que a peça durar. E saber costurar, ver acabamentos, me faz valorizar o trabalho das costureiras por trás de cada roupa que tenho, e me faz colocar um pouquinho de mim em cada peça que corto ou costuro.
Gosto de pensar que levo o legado de várias mulheres que vieram antes de mim, seja das minhas professoras de costura, das minhas avós que também costuravam, das minhas tias e primas, da minha mãe que ainda me ensina muito sobre costura e acabamento, e da minha irmã que fica mais empolgada com as minhas costuras do que eu. Cada roupa leva uma história, qual roupa você tem que conta as suas histórias? Ou quem sabe de outras pessoas também?!