12 de dezembro de 2025
sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Adultização e aborto: é normal meninas serem mães?

Recentemente viralizou na internet um vídeo do Felca (youtuber), sobre o tema “Adultização”. Particularmente não vi o vídeo em si, mas acompanhei por outros youtubers o desdobramento do tema, bem como a repercussão na política que foi amplamente divulgada em jornais locais e nacionais. 

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O tema não é novo, mas acompanhar outras visões sobre a repercussão foi enriquecedor. Indico aqui as três visões que vi sobre a viralização do vídeo do Felca. A primeira é mais “fofoquinha”, nem por isso quer dizer que é menos informativo, que é do canal Naty e Isa, um vídeo intitulado “Felca enterra Hytalo Santos: precisamos falar sobre adultização…”. A segunda é do canal Cortes da Sarjeta, que posta recortes da “Live do Caos” do canal, Quadrinhos na Sarjeta, neste caso é o vídeo “Adultização e a hipocrisia de uma ‘Lei Felca’”. E a terceira é num tom mais político, do canal do Jones Manoel, com o título “Felca e a despolitização do debate sobre exploração infantil”. 

É a primeira vez que vejo uma repercussão grande que fale dessa adultização, da exploração de crianças, da influência das redes sociais nas vidas de crianças e adolescentes, e principalmente, sobre meninas mães. 

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Eu acompanho notícias e matérias sobre meninas mães, porque o tema leva ao debate do aborto legal, e que negar o aborto para meninas que sofreram abuso, leva não só a uma gravidez indesejada, mas violenta a vida dessas meninas e dos nenéns que elas são obrigadas a ter por um moralismo conservador religioso. 

A revista AzMina, o Portal Catarinas e o Intercept Brasil já falavam sobre aborto legal e documentavam histórias de meninas mães há muito tempo. Uma das matérias que fizeram e que poderia ter ganhado essa mesma repercussão que o vídeo do Felca, foi em parceria com o Portal Catarinas e o Intercept Brasil: “A ONG evaporou: rede antiaborto pressiona adolescente de 13 anos a ter filho do estuprador e depois a abandona”. O caso teve uma ‘leve’ repercussão, porque a ONG tinha vínculo com uma famosa, que, claro, ganhou palco com o assunto, em vez de realmente cobrar o devido acolhimento da própria ONG que participava. 

Infelizmente, acompanhar o debate sobre aborto no Brasil é acompanhar sobre violência aos corpos que gestam, e os dados não são bonitos, escancara uma violência sistemática aos mais vulneráveis, já que o mundo e todos ‘devem servir ao homem’. O site Aborto no Brasil traz informação qualificada sobre o tema, um dos dados que me chamam a atenção é que 52% das pessoas que abortaram tinham 19 anos ou menos, ou seja, mais da metade que conseguiu o acesso ao aborto legal eram meninas e adolescentes. É mais aterrador pensar quantas não conseguiram acesso ao aborto legal-mesmo vítimas de violência-e, foram obrigadas a continuar com a gestação.

Com esse boom da Adultização, a Revista AzMina fez uma reportagem só sobre “Meninas mães”, que, pra quem não acompanha, infelizmente é muito comum-e não deveria ser. “A cada meia hora uma criança vira mãe” é a chamada da reportagem, de cara já temos um panorama sobre gravidez e violência sexual no Brasil: 

“Imagine a seguinte cena: uma menina de 12 anos chega a um posto de saúde grávida após sofrer uma violência sexual. Por lei, teria direito a interromper a gestação. Na prática, essa opção quase nunca é apresentada para ela e a família. Entre 2014 e 2023, todos os dias, nasceram (em média) 57 bebês filhos de meninas com idades entre 10 e 14 anos. Cerca de 75% delas eram negras, mais de 200 mil no total, enquanto só 828 crianças acessaram o direito ao aborto legal” Revista AzMina, Meninas mães.

Nessa onda sobre a Adultização, parece que muitas pessoas, inclusive políticos da extrema-direita, quiseram aproveitar para ganhar engajamento, pagando de bons moços. Vi comentários que ressuscitaram o assunto sobre Marajó, que já foi provado como denúncia falsa de exploração de crianças. Porque para esse tipo de gente, falar de adultização e de exploração de crianças e adolescentes, não é o mesmo que falar de aborto legal. Se fosse, ouviríamos e leríamos mais sobre as 7 cidades que têm “[…] as maiores taxas de fecundidade entre meninas de 10 a 14 anos […]. São elas: Assis Brasil (AC), Uiramuta (RR), Itacajá (TO), Jacareacanga (PA), Tocantinia (TO), Goiatins (TO) e Alto Alegre (RR)” (Revista AzMina, Meninas mães). 

No fim, a verdade só não vê, quem não quer. Falar sobre infância, adultização, aborto legal, gênero, educação sexual e sobre o papel das Big Techs nisso, é falar sobre um sistema que falhou com a população, que explora nossos corpos, principalmente corpos vulneráveis e que gestam. Um mundo e uma realidade que nossas meninas não sejam mães, ou melhor, que não sejam obrigadas a serem mães, só será possível com a nossa mobilização. Seja para cobrar educação sexual nas escolas, principalmente porque os casos de violência sexual contra crianças e adolescentes acontecem majoritariamente nas casas dessas famílias. Seja para cobrar aborto legal e acolhimento dessas meninas que sofreram violência sexual. Seja para acabar com esse sistema capitalista patriarcal que vê os corpos de meninas e mulheres como meros receptáculos para fabricar mais ‘mão de obra barata’. Do jeito que está não está bom, ainda mais se enxergamos “Os ‘brasis’ dentro do Brasil que não se quer ver”.

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Letícia Cristina
Letícia Cristina
Letícia Cristina é bibliotecária, empreendedora, costureira e amante dos cuidados capilares.

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