Na próxima segunda-feira, dia 14 de julho, será celebrada na França a queda da Bastilha, um dos momentos mais emblemáticos da Revolução Francesa. Esse fato foi tão emblemático que muitos historiadores o utilizam como o marco do fim da Era Moderna e o início da Contemporânea.
Apesar da controvérsia em torno dessa metodologia de divisão da história em eras com base em eventos significativos quase exclusivamente para os povos ocidentais, não se pode negar a importância da Revolução Francesa na história da humanidade. Por refletir transformações políticas, sociais e culturais daquele tempo, podemos sentir o seu impacto em várias áreas de nossas vidas, inclusive na música.
Os revolucionários franceses utilizaram a música como ferramenta de mobilização do povo e como forma de disseminação dos seus ideais. La Marseillaise, composta em 1792 por Claude Joseph Rouget de Lisle, é uma convocação à luta pela liberdade e tornou-se um dos símbolos da unidade do povo francês.
Hino Nacional da França | La Marseillaise – “A Marselhesa” | [FR/PT-BR]
Sua força e importância foram tão grandes que, em 1795, La Marseillaise foi declarada o hino nacional da França. Além disso, estabeleceu um padrão de composição para os hinos nacionais escritos nos anos seguintes.
O teatro e a ópera também foram influenciados pelo movimento revolucionário. Compositores como Étienne-Nicolas Méhul e Luigi Cherubini, autores respectivamente de Le Chant du Départ e Lodoïska, passaram a incluir em suas obras temas revolucionários e exaltavam valores como igualdade e heroísmo.
Étienne-Nicolas Méhul – Le chant du départ (1794)
Muitos consideram que neste período houve uma democratização da música. A Revolução promoveu festivais cívicos com música ao ar livre, nos quais estiveram envolvidos grandes coros e orquestras com participação popular. Essa atitude contribuiu para deslocar a música dos salões aristocráticos e para as ruas.
As bandas militares surgem nesse período com o objetivo de animar cerimônias e batalhas. Esse fato contribuiu com o desenvolvimento de marchas e da música instrumental com temas patrióticos.
Surge um gênero de ópera conhecido como Ópera Rescue” (de resgate) que refletia os valores revolucionários por meio da celebração de heróis comuns e temas de libertação. Um exemplo de Ópera Rescue é Les Deux Journées de Luigi Cherubini.
1799 – Les deux journées – Cherubini
Outro gênero de ópera também é afetado com os processos de democratização da música. Trata-se da chamada Ópera Séria que vê o fim do seu domínio por ser considerada com a aristocracia, a ópera séria perdeu espaço para formas mais acessíveis, como a opéra-comique.
Em alguns aspectos a Revolução Francesa contribuiu com o advento do Romantismo na música. Por enfatizar temas como o heroísmo, os compositores passaram a explorar emoções intensas que refletia o clima dramático do período revolucionário. Os compositores passam a experimentar formações orquestrais maiores para eventos públicos em antecipação ás grandiosas orquestras do Romantismo.
O gigantismo e o fervor revolucionário influenciaram compositores como Hector Berlioz que incorporou essa temática em obras como Sinfonia Fantástica e Grande Messe des Morts.
Berlioz : Symphonie Fantastique (Philharmonique de Radio France / Myung-Whun Chung)
A Revolução Francesa ajudou a estabelecer a ideia de que a música não poderia se restringir aos palácios reais e salões aristocrático, mas ser acessível ao povo e servir a propósitos cívicos. Esses ideais influenciaram movimentos nacionalistas do século XIX e a relação entre arte e política.
Em outras palavras, a Revolução Francesa transformou a música em um veículo de propaganda, celebração coletiva e expressão de ideais democráticos. Isso serviu para pavimentar o caminho para novas formas expressão artística como o romantismo.