Chegar aos 50 anos é assumir, com orgulho e coragem, todos os caminhos já percorridos e celebrar cada aprendizado que a vida me proporcionou. Hoje, compartilho um pouco da minha vivência, especialmente nesse ciclo tão significativo da minha trajetória: minha passagem pela Secretaria Estadual das Mulheres.
Durante muito tempo, sonhei em trabalhar com políticas públicas, não apenas como voluntária, mas sendo reconhecida e remunerada por isso. Vivi essa experiência em diferentes espaços de militância: nas comunidades eclesiais de base, em associações de moradores e outras iniciativas que ajudaram a formar a mulher que sou hoje. Mas em 2023, dei um passo fundamental ao ingressar oficialmente na secretaria, tornando-me parte de um projeto coletivo voltado para o empoderamento e a inclusão de mulheres, principalmente mulheres negras, e pela promoção da igualdade.
Foram dois anos intensos e marcantes, cheios de aprendizados, desafios, conquistas e até mesmo algumas perdas que nunca imaginei viver. Aprendi a lidar com pessoas queridas, com quem compartilhei sonhos e lutas, e com aquelas que me desafiaram a sair do lugar comum, a enxergar além dos meus próprios limites.
Estar próxima da pauta das mulheres me permitiu olhar com mais sensibilidade para a pluralidade das nossas realidades. Entendi, na prática, que somos um grupo diverso: mulheres brancas, negras, indígenas, quilombolas, pescadoras, empreendedoras, mães, lideranças comunitárias. Cada uma carrega uma história única, e esse mosaico é ao mesmo tempo nossa maior riqueza e o maior desafio na construção de políticas públicas realmente efetivas. Porque pensar em equidade de gênero e inclusão exige escuta, acolhimento e respeito à singularidade de cada mulher.
Vivenciei de perto as desigualdades que ainda marcam o cotidiano das mulheres brasileiras, especialmente das mulheres negras: somos maioria no país e no Espírito Santo, mas ainda sofremos mais com a violência, a informalidade no trabalho, a sobrecarga de cuidados e a discriminação em diferentes espaços. O feminicídio nos assusta, e as estatísticas mostram que as mulheres negras são as mais afetadas pela violência. Não podemos nos calar diante dessas realidades. Precisamos, diariamente, lutar para transformar esses dados, fortalecendo nossas redes de apoio e ampliando os espaços de decisão para todas.
Encerrar esse ciclo na secretaria foi, ao mesmo tempo, um ato de coragem e gratidão. A vida é feita de recomeços, de novos caminhos a serem trilhados. Carrego comigo as vivências, os encontros e aprendizados desse tempo, pronta para seguir adiante, impulsionando outras mulheres e construindo, juntas, espaços mais justos, inclusivos e humanos.
Ser mulher aos 50 anos é, acima de tudo, acreditar que sempre há espaço para o empoderamento, para a reflexão, para recomeçar e fortalecer outras mulheres. Sigo firme, com o coração aberto e a certeza de que, juntas, vamos conquistar muito mais.
Vamos em frente. Sempre.