7 de dezembro de 2025
domingo, 7 de dezembro de 2025

A morte na partitura

“A morte é a única certeza que temos na vida.” Essa é uma frase que ouvimos desde o dia que nascemos. No entanto, ao recebermos a notícia de alguma perda ou sabermos de um diagnóstico fatal, sempre somos tomados por alguma surpresa. Foi o que provavelmente aconteceu a muitos quando foram divulgadas as mortes de Preta Gil e Ozzy Osbourne.

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Em situações comuns, como a perda de uma pessoa amiga ou da família, nos entristecemos e buscamos conforto nas boas memórias. No caso da morte de artistas, a reação mais comum é afirmar que sua vida se eternizará por meio de sua obra que inclui, dentre outros temas, a própria morte.

Um caso famoso é o quarteto de cordas n° 14 de Franz Schubert, mais conhecido como A morte e a donzela. Essa obra foi escrita em 1824, dois anos após o compositor alemão descobrir que havia contraído sífilis. É considerada por muitos como uma mensagem do músico que sentia a proximidade cada vez maior da morte.

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  1. Schubert Quarteto de cordas “A morte e a Donzela”

A sua primeira apresentação aconteceu em de forma privada e sua publicação, sob forma de partitura, só foi feita em 1831, dois anos após a morte. O nome do quarteto foi dado a partir do seu segundo movimento, que retoma uma canção de Schubert escrita em 1817, cujo título era o mesmo do quarteto.

Schubert: Der Tod und das Mädchen, D. 531

A música pode ser vista também como uma maneira de darmos voz a nossas angústias e inquietações diante desse fato inevitável. Seja para chorar os que partem, celebrar suas histórias ou até desafiar a própria finitude, a música se converte na trilha sonora que nos ajuda a atravessar e superar esse momento.

Em culturas ancestrais, os mortos nunca partiam sem uma canção. Um exemplo disso é o ritual funerário ganês que ganhou a internet com vários vídeos que, no Brasil ganhou o nome de meme do caixão.

DANÇA DO CAIXÃO ( Clipe Oficial em HD )

Os funerais na África são momentos muito importantes para a comunidade. Por isso, o agente funerário Benjamin Aidoo decidiu “… acrescentar uma coreografia, então quando o cliente vem até nós, perguntamos: ‘Você quer algo solene ou um pouco mais de teatro? Ou talvez uma coreografia?’”.

A música também pode servir como uma forma para se encontrar após uma perda. Foi o que fez o guitarrista Eric Clapton ao escrever Tears in Heaven, canção que trata da perda do filho de quatro anos.

Desastre no 53º Andar: A História Que Mudou Eric Clapton e Chocou o Mundo

Além do luto, a morte pode evocar outros sentimentos como o terror presente no Dies Irae da Sinfonia Fantástica de Berlioz. Até no samba brasileiro, a finitude é tratada de uma forma bastante diferente: “Quando eu morrer, não quero choro nem vela / Quero uma fita amarela gravada com o nome dela”, diz o verso de Fita amarela. A música, aqui, é o abraço que a linguagem comum não consegue dar.

FITA AMARELA        NELSON GONÇALVES    HD  720p

Em outras palavras, se dizemos que a morte é o fim do corpo, a música garante que a memória dos que se foram permaneça viva entre nós. Ela funciona como um antídoto contra o silêncio do esquecimento. Nos hospitais, a musicoterapia acalma pacientes terminais; nos funerais, une comunidades; e na cultura, desafia tabus. Talvez a grande lição seja esta: enquanto houver alguém para cantar, bater pandeiro ou tocar uma nota, a morte nunca terá a última palavra.

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Ulisses Mantovani
Ulisses Mantovani
Bacharel em Música da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), violeiro, compositor e Servidor Público Estadual

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