Quando eu era criança, o mês de maio tinha dois grandes significados: o mês das mães e o mês das noivas. Celebrávamos nossas mães com afeto e, para muitas meninas, sonhava-se com o casamento, as flores de laranjeira e o simbolismo de ser noiva em maio. Eu mesma guardava essas lembranças com carinho, refletindo sobre como as narrativas em torno da maternidade e do casamento estavam profundamente entrelaçadas na infância.
No entanto, ao longo da vida, especialmente após minha experiência na Secretaria e o contato próximo com tantas mulheres, descobri que maio guarda também outras histórias. Histórias menos celebradas, mas absolutamente fundamentais de serem contadas. Maio é também um mês de luta. É um mês emblemático para dois grupos muitas vezes invisibilizados: mulheres que convivem com a fibromialgia e mães que vivem a maternidade atípica.
Pouca gente sabe, mas o dia 12 de maio é marcado como o Dia de Sensibilização para a Fibromialgia — uma síndrome complexa que afeta 80% de mulheres e meninas diagnosticadas. Dores crônicas, fadiga extrema, problemas emocionais, confusão mental — os efeitos são devastadores e, ainda assim, negligenciados. Além do tabu em relação aos sintomas, muitas vezes essas mulheres são vistas como preguiçosas ou exageradas, já que sua condição não é tão compreendida pela sociedade. Sem políticas públicas robustas, elas enfrentam desafios imensos para acessar tratamentos adequados e, ao mesmo tempo, lidam com o estigma profundo que carrega sua realidade.
E há também outro grupo que muito me impactou: as mães de filhos com deficiências ou necessidades especiais, representando a maternidade atípica. A luta dessas mulheres é dura e, geralmente, solitária. Muitas assumem o cuidado integral de seus filhos e filhas, já que os parceiros, frequentemente, não permanecem ao seu lado. Elas renunciam à própria identidade e vida pessoal, tornando-se “mães do Paulo” ou “mães da Silvana”, e raramente conseguem ocupar outros papéis além desse. As demandas das terapias, consultas e cuidados constantes impedem que muitas delas tenham tempo para trabalhar fora de casa ou mesmo para cuidar de si.
Jamais esquecerei de uma roda de conversa que participei em Cachoeiro de Itapemirim, no início do ano. Uma das mulheres presentes compartilhou sua história com um peso que ficou gravado em mim. Sua filha, já adulta, estava numa cadeira de rodas, traqueostomizada. Ela própria lidava com sérios problemas de saúde devido à obesidade, sendo indicada há tempos para uma cirurgia bariátrica. Mas sua decisão era não operar. Não porque não queria, mas porque tinha medo de morrer e — caso morresse — não haveria quem cuidasse de sua filha. Essa narrativa me trouxe um misto de dor e admiração pelo amor incondicional que essas mulheres carregam.
Essas histórias representam realidades que precisam de visibilidade. Mulheres com fibromialgia e mães vivendo a maternidade atípica — suas vidas exigem empatia, acolhimento e políticas públicas que atendam suas necessidades. Precisamos perceber essas mulheres, enxergar suas lutas e trabalhar pela dignidade que elas merecem, seja através do combate à violência institucional que enfrentam ou da criação de iniciativas que garantam apoio e inclusão.
Maio, que outrora para mim era um mês cheio de celebrações, hoje também é um lembrete: a luta dessas mulheres precisa ser reconhecida. Que possamos ouvir, acolher e amplificar suas vozes. Afinal, se há algo que essas mulheres nos ensinam é que amor e resistência caminham lado a lado — mesmo nos momentos mais difíceis.