Existem vários argumentos para justificar a sobrecarga de trabalho e um dos mais famosos deve ser o versículo “o trabalha edifica o homem”. Mas isso é tudo uma mentira, essa frase não é um versículo, só é apropriada por religiosos fundamentalistas como se fosse algo divino como a Palavra de Deus.
Um bom exemplo de frases que atribuem a Bíblia e não tem nada haver com o que Jesus ensinou é a famigerada: Diga-me com quem tu andas e eu te direi quem és. É tão contraditório, que ignoram que Jesus andava com cobradores de impostos, prostitutas e pobres, não a toa ele incomodava tanto os religiosos da época.
Para além da discussão sobre o que a Bíblia diz ou não, o que importa nesses casos é que quem se compromete com o Reino de Deus nunca vai se comprometer com qualquer tipo de exploração. No caso do “trabalho edifica o homem”, em tempos de crise climática, guerras e lutas pelo fim da escala 6×1, essa frase é usada para manter os ânimos controlados. Afinal, onde já viu o trabalhador perceber que é explorado?!
A religião é ferramenta fundamental para acalmar e alienar os explorados, principalmente as igrejas evangélicas brasileiras. De fato, se parar para pensar na massa evangélica que existe hoje, nas personalidades que representam essas igrejas e na dita bancada evangélica, dá até vergonha dizer que seguimos o Evangelho. É tão “evangélico” que de Evangelho não tem nada.
Recentemente as redes e jornais pipocaram com notícias sobre o show da Lady Gaga. Adivinha quem se incomodou com o show da popstar? Os mesmos evangélicos brasileiros que acreditam que o trabalho edifica o homem, que esse papo de escala 6×1 é coisa de vagabundo que não quer trabalhar. É uma das máximas da alienação, mostra o quanto as pessoas são entranhadas de ideologia dominante – como se o interesse do Elon Musk fosse o mesmo interesse deles. Se bem que para alguns deve fazer sentido destruir o planeta e lucrar às custas dos outros, só precisamos lembrar que o Evangelho não tem nada haver com essa exploração alheia.
Quem explora a força de trabalho do outro para lucrar e enriquecer sabe muito bem que falar de religião é só para convencer os mal informados.
Se a máxima dessas pessoas fosse mesmo a Palavra de Deus, era só seguir o 1º e mais importante mandamento que Jesus ensinou: “Ele respondeu: Ame ao Senhor, o seu Deus, com todo o seu coração, com toda a sua alma, com todas as suas forças e com todo o seu entendimento e ame ao seu próximo como a você mesmo” Lucas 10.27.
Porém, como vimos no show da Lady Gaga, amor é o que mais falta, sobra ódio e as ações são sempre para tentar destruir aqueles que são diferentes. É triste ver que amar o próximo é tão difícil para essas pessoas, e que mais parece que não apenas odeiam os diferentes, mas se odeiam. Falta amor pelo outro e amor próprio, sobra ódio. Infelizmente é de se esperar, pois vivemos num sistema capitalista que nos coloca como inimigos e não iguais perante a Deus.
Mas o que isso tem haver com o título do artigo? A exploração dignifica o homem, que homem? Só se for o burguês, o bilionário, o trilionário. Porque o deus desses homens é o dinheiro, ou se preferir Mamom.
Falam tanto que Jesus disse isso ou aquilo, mas de Mamom ele foi bem claro: “Ninguém pode servir a dois senhores, pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” Mateus 6.24.
A Palavra pode ser libertadora? Acredito que sim, mas não podemos ser coniventes com tudo o que ouvimos. Ouvir sobre Deus, Jesus, capitalismo e as tramoias políticas do momento, pra mim servem de diálogo. Só crescemos com discussão, dispostos a aprender, a questionar e a compreender que no fim não somos donos da verdade. Aquele que mais tem razão é o que menos tem noção, mas não precisa me ouvir, “Jesus respondeu: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim” João 14.6.
Se está faltando Evangelho – nesse caso o que realmente Jesus ensinou – e amor, então sobra ódio, alienação e muita exploração. Aceitar que você não é bem sucedido como queria porque não se esforçou o suficiente, ou que tá tudo bem em trabalhar numa escala desumana porque você não teve estudo o suficiente, ou qualquer outra coisa que não tenha sido o suficiente, é aceitar que nada vai mudar e que o problema de toda a sociedade pode ser resolvido individualmente. Só a nossa organização, e uma pitadinha de amor (de verdade, se amar e amar o próximo), já ajuda muito, não só você, mas todos à sua volta.