Dizem que, quando uma cobra te pica, o ideal é ir diretamente ao hospital, não correr atrás da cobra para pedir explicações. Ou seja, priorize se cuidar, trate sua ferida e esqueça de tentar entender os “porquês”. Nem sempre existe uma resposta que faça sentido. E, claro, isso não significa que você precise lidar com cobras de novo — a metáfora, obviamente, deixa claro que não estamos falando de animais.
Eu sempre fui uma dessas pessoas obcecadas pelo “porquê” das coisas. Por que fulano me magoou? Por que celebraram a conquista dela e ignoraram a minha? Por que disseram aquilo quando podiam ter ficado quietos? Todo dia era uma cacofonia de questionamentos que, de alguma forma, só ficavam acumulando na minha cabeça.
E, diferente de mim, sempre estive cercada por gente que não fazia a menor questão de saber motivos; elas simplesmente resolviam ou seguiam em frente. Simples assim. Você acha que isso me tranquilizava? Que nada. Me causava uma inveja absurda. A diferença é que, enquanto elas estavam bem, eu era rotulada: dramática, carente e, claro, uma chata de carteirinha. E, no fundo, eu sabia que era verdade.
Reconhecer minha própria chatice foi libertador. Não porque eu me orgulhe disso, mas porque entender que eu era assim foi o primeiro passo para tentar mudar. Minha obsessão por respostas e reciprocidade só me afastava do essencial: cuidar de mim mesma. Eu dedicava tanto tempo à análise de comportamento dos outros que esquecia de olhar para quem realmente importava, eu. Quantas vezes me sabotei porque estava ocupada demais tentando entender os erros alheios? Quantas vezes deixei minha paz ser abalada porque queria um fechamento emocional que nunca chegou? Hoje, olhando para trás, vejo tudo diferente. Me arrependo, sim. E não venham com essa filosofia de “não me arrependo de nada, pois tudo me construiu”, isso não cola comigo.
O “estalo”, aquele momento em que percebi que estava na hora de largar os “porquês”, aconteceu. Não sei exatamente quando foi, mas aconteceu – por incrível que pareça, tive essa percepção recentemente, eu finalmente não me importo.
Comecei a entender que nem tudo é sobre reciprocidade, que nem todas as relações são do tipo “dar e receber”, e, o mais importante: nem tudo é sobre mim, sobre nós. Algumas pessoas demonstram amor e afeto de formas diferentes — e isso é completamente válido. Outras pessoas, por sua vez, simplesmente não nos consideram da mesma forma ou só entregam aquilo que elas estão dispostas, e está tudo bem também.
Escrevendo tudo isso agora, ainda consigo lembrar da sensação ruim sempre que me vi sendo incompreendida. Eu achava que o mundo me devia respostas, atenção ou reciprocidade (ô mundo cruel). Descobri que não deve nada. Analisando as situações, reconheço plenamente que eu era insuportavelmente chata.
O melhor psicólogo é o tempo. É por meio dele que questionamos, sentimos e encaramos aquilo que talvez nunca pensássemos — ou nem gostaríamos de enfrentar. Mas é nesse processo que a experiência se constrói, e é a própria jornada que, aos poucos, se revela como o verdadeiro remédio. É ela que nos cura, nos molda e nos faz evoluir. Siga com seu profissionalismo. Excelente trabalho!