quarta-feira, 30 de abril de 2025

Hiperresponsabilização e saúde mental

Recentemente vi uma postagem no Instagram do perfil Despatologiza, com o tema “Não, você não é o seu maior obstáculo”, como uma pessoa que se responsabiliza o tema logo me chamou a atenção, a legenda é um texto libertador, se você também se vê como o “seu maior inimigo”. Vale a pena ler a postagem na íntegra, mas aqui destaco algumas frases que pra mim fazem todo sentido: “[…] aquilo que não conseguimos conquistar no passado e presente só não foi possível porque fomos nosso principal obstáculo. […] um lugar de ilusão do controle e de livre arbítrio descontextualizado, culpabilizado e/ou envergonhado, […] com o mundo não exercendo nenhum tipo de influência sobre ela. […] A compreensão de como o contexto se relaciona com nossas ações, pensamentos e sentimentos, é basilar para que, assim, possamos usar esses fatores contextuais a nosso favor, ou até mesmo, compreender nossas próprias limitações e até onde podemos ir”.

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Foi nessa postagem que vi pela primeira vez o termo “hiperresponsabilização”, e assim como a ideologia burguesa enlatada que nos é ensinada, esse conceito individualiza problemas que não necessariamente são individuais, afinal, somos indivíduos, mas vivemos em sociedade, e deveríamos viver mais em coletividade, onde o problema do outro é um problema de todos. Infelizmente o que reina é o pensamento – que cabe aqui a frase do personagem de humor, Patropi – “você pra mim é problema seu”.

Nos tempos em que a cultura de alta produtividade é exaltada como um mantra para o sucesso, é crucial refletir sobre quem realmente se beneficia desse sistema. A hiperresponsabilização, em que somos levados a acreditar que a responsabilidade pelo nosso desempenho e bem-estar repousa exclusivamente sobre nossos ombros, constrói um cenário em que a classe trabalhadora é constantemente pressionada a produzir mais. Mas, será que essa “ditadura da produtividade” realmente serve para todos? Ou, ao contrário, está apenas enriquecendo a burguesia, enquanto nós somos sugados pelo capital e vivemos constantemente cansados?

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Será que a nossa identidade se resume ao que entregamos diariamente? O que dizer do valor intrínseco de simplesmente viver, compartilhar momentos e experienciar o coletivo? Muitas vezes, a velocidade com que somos empurrados para performar sempre mais nos faz esquecer que, acima de tudo, somos seres humanos. 

Tem um vídeo em formato de ensaio muito bom sobre o tema produtividade, postado pelo canal Ora Thiago, que traz o viés da “PRODUTIVIDADE (em tempos de IA)”, e em como empurram o uso da IA como ferramenta para “você produzir mais”.

Vejo essa exaltação da produtividade a qualquer custo como catalisador de ansiedades. E se você não produziu o suficiente neste dia, simplesmente porque não estava bem, o que acontece? Quem nunca sentiu culpa porque está descansando, em vez de produzir? Posso dizer com propriedade que me esforço para não ficar mal quando estou descansando, que está tudo bem em estar cansada e precisar de uma pausa. Você já se sentiu assim?

Em grande medida, essa cultura de alta produtividade serve aos interesses de uma elite que lucra com a nossa exploração. E a hiperresponsabilização é a pá de cal que faltava. Quando nos hiperresponsabilizamos não apenas descaracterizamos o contexto sócio-histórico que vivemos, mas também sufocamos nossas aspirações por saúde mental e equilíbrio. Acreditando que o sucesso depende unicamente de nossa capacidade de produção, o que nos afasta do pertencimento a uma comunidade, deixando apenas um rastro de competição e solidão.

Há uma necessidade de redefinirmos o que significa viver bem, o que lembra um debate ainda em voga, que é o fim da escala 6×1, afinal existe vida além do trabalho. Aproveitar a vida, cultivar relações significativas e desafiar o status quo deve ser nossa prioridade, pois é no coletivo que, primeiramente, nos organizamos, encontramos força e humanidade.

O luta é grande, e a resistência deve ser criativa. Pois, o cuidado com a saúde mental e a vivência coletiva nunca será o primeiro lugar num mundo capitalista, aliás nada em benefício da classe trabalhadora é prioridade nessa estrutura neoliberalista. No fim, nos resta viver com um propósito, nos organizarmos.

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Leticia Aguiar
Leticia Aguiar
Letícia Cristina é bibliotecária, empreendedora, costureira e amante dos cuidados capilares.

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