Foi na virada dos 49 para os 50 anos que tive meu primeiro contato significativo com a terapia. Na época, eu era advogada de profissão, embora estivesse momentaneamente afastada da minha área de atuação. Estava envolvida com atividades na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), onde havia atendimentos psicológicos disponíveis. Resolvi colocar meu nome na fila, sem grandes expectativas. Era aquele tipo de situação em que você pensa: “Por que não? Vamos ver no que dá”.
Quando meu nome foi chamado, confesso que fiquei surpresa. Apesar de ter feito uma tentativa de terapia anos antes, por volta de 2012, naquele período não fluiu. Talvez eu não estivesse pronta ou talvez não tivesse encontrado a profissional certa, mas a experiência ficou aquém do esperado.
Desta vez, foi diferente. Mesmo com uma rotina atribulada, senti que era hora de tentar de novo. O que me surpreendeu foi como consegui conversar francamente, algo que, para mim, sempre foi um desafio. Sou boa ouvinte, mas expor o que sinto? Isso, definitivamente, é algo que sempre me exigiu esforço. O terapeuta encontrou uma forma de me fazer abrir, refletir e conectar-me com aspectos internos que antes permaneciam escondidos.
A terapia também me ajudou a perceber algo essencial: a importância de dizer “não”. Durante muito tempo, eu disse “sim” mais do que gostaria, e essa dificuldade de impor limites vinha de um desejo inconsciente de agradar, de ser aceita. Como uma criança e adolescente fora dos padrões — gordinha, e, na vida adulta, obesa —, carregava essa necessidade de ser vista como alguém que pudesse fazer parte, pertencente.
Mas as provocações do terapeuta me levaram a refletir profundamente. Foi libertador confrontar minha dificuldade em dizer “não” e enxergar que isso era uma forma de priorizar os outros em detrimento de mim mesma. Ao longo das sessões, comecei a entender que, para ser mais verdadeira comigo, dizer “não” aos outros precisava ser uma prioridade.
Hoje, reconheço que os benefícios das sessões foram além da sala de terapia. Fizeram-me valorizar a importância da minha saúde mental e perceber que falar não era apenas para o terapeuta, mas para ouvir a mim mesma. Essa prática mudou a minha percepção sobre autocuidado.
Após um período sem terapia, pretendo voltar. Apesar de ter ficado um pouco “relaxada” nesse sentido — algo que muitos de nós reconhecemos como normal diante da correria cotidiana —, sinto que já é hora de retomar as sessões. A falta de pausas e o foco excessivo no trabalho no último ano foram desgastantes, mas isso me fez reafirmar a importância de continuar priorizando meu bem-estar mental e emocional.
Comecei este ano com metas claras para mim mesma. Quero cuidar melhor da minha saúde, aprender a silenciar quando preciso, lidar de forma mais leve com a vida e não me sentir mais culpada por colocar minhas necessidades em primeiro lugar. Parece simples, mas é um exercício diário.
A terapia me ensinou a enxergar o quanto essas escolhas são um ato de amor-próprio. Dizer “sim” para mim e “não” para aquilo que já não cabe mais na minha jornada tem sido transformador. Ainda é um exercício contínuo, quase como uma academia para a mente e para o coração, mas percebo progressos que me deixam feliz.
Ao pensar nesses processos, chego à conclusão de que a terapia é algo indispensável para quem tem a oportunidade de fazer. Seja semanal, quinzenal, ou mesmo mensal, é um espaço único para falar, ouvir, refletir e processar. Mais do que isso, é um caminho para se (re)descobrir.
É claro, compartilhar sentimentos com amigos ou familiares é válido, mas nada substitui um profissional treinado para nos guiar nas nossas próprias questões. Terapia é um investimento em você.
Neste mês de janeiro, marcado pela campanha “Janeiro Branco”, que promove a saúde mental, faço um convite a todos: experimentem se ouvir, conversar e buscar ajuda quando necessário. Terapia é um espaço seguro para abraçar nossas emoções, organizar nossos pensamentos e encontrar clareza nas nossas escolhas.
Seja presencial ou por telemedicina, recomendo vivamente a experiência. Vamos falar, gritar, chorar e, principalmente, escutar a nós mesmos. Afinal, cuidar da mente é tão essencial quanto cuidar do corpo.