Dando continuidade à nova fase do mês de dezembro! Este tema marca o início de um
ciclo de entrevistas com mulheres poderosas e atuantes no mercado da construção civil e
gestão de projetos. Empreender é sempre um desafio, e é nos bastidores que tudo
realmente acontece.
Para compreender melhor e mostrar às pessoas como esse universo funciona, trouxemos
aqui um trecho da entrevista realizada com uma profissional excelente, que atua no
mercado da Grande Vitória. Ela compartilha sua visão sobre o mercado em 2024 e reflete
sobre diversos temas, como desenvolvimento urbano, empreendedorismo, trajetória
pessoal, entre outros assuntos relevantes.
Confira a entrevista a seguir:
“Sou Aretha Tinoco Silva, tenho 27 anos e sou arquiteta e urbanista com pós-graduação em design de interiores. Meu trabalho é focado em projetos legais para aprovação e regularização em prefeituras, projetos executivos residenciais e vistorias técnicas. Desde 2020 venho construindo minha carreira como autônoma, enfrentando os altos e baixos dessa jornada, mas sempre com o olhar voltado para o crescimento e a excelência.
Minha única experiência com CLT foi em 2024, quando trabalhei por três meses em um
escritório renomado na Serra-ES.
Embora tenha sido um período curto, ele foi enriquecedor, pois me proporcionou vivências que vão além da sala de aula: lidar com clientes, visitar obras, entender processos industriais e aprofundar o uso de softwares específicos. Essas lições foram fundamentais para moldar a profissional que sou hoje.
No entanto, ser autônoma tem seus desafios. A captação de clientes, por exemplo, é uma
tarefa árdua. Muitas pessoas preferem nomes já estabelecidos ou, pior ainda, optam por
fazer suas obras sem orientação profissional, o que pode trazer inúmeros problemas. Além
disso, o reconhecimento do trabalho de uma mulher na área da construção civil nem
sempre vem facilmente. Alguns clientes insistem em subestimar nossas habilidades,
questionam nossos valores e querem opinar em tudo, mesmo sem o conhecimento
necessário.
A instabilidade financeira da área também é algo com o qual precisamos lidar. Como
autônoma, cada mês pode ser imprevisível, e o mercado formal, com emprego CLT, é
bastante competitivo. Soma-se a isso a burocracia dos municípios, que nem sempre
colaboram com nosso trabalho. Por exemplo, taxas altas e crescentes para registro de
responsabilidade técnica, além de prazos longos para aprovação de projetos e emissão de
alvarás, dificultam nossa rotina e geram insatisfação nos clientes, que acabam nos
cobrando por algo que não está sob nosso controle.
Olhando para o futuro, acredito que o investimento em desenvolvimento urbano é
essencial para a prática da arquitetura. Sem ele, enfrentamos problemas prévios ao nosso
trabalho, como falta de acessibilidade, mobilidade urbana e saneamento básico. Esses
aspectos impactam diretamente a qualidade dos nossos projetos e a satisfação dos clientes.
O home office é uma ferramenta que facilita minha rotina. Consigo realizar boa parte do
trabalho remotamente, mas não abro mão do contato presencial em momentos-chave,
como vistorias, medições e reuniões para levantamento de necessidades.
A valorização da nossa profissão ainda é um obstáculo. Muitos clientes só percebem a
importância do arquiteto quando enfrentam problemas que poderiam ter sido evitados
com um planejamento adequado. Mesmo assim, às vezes é difícil fazer com que eles
entendam o custo e o valor do nosso trabalho.
O ano de 2024 foi desafiador e menos produtivo do que eu esperava, com mais vistorias
do que projetos completos. Porém, foi um período de aprendizado e aperfeiçoamento.
Para 2025, minhas metas incluem captar mais clientes, continuar me desenvolvendo
profissionalmente e, quem sabe, abrir meu próprio escritório.
Arquitetura é sobre transformar espaços e melhorar vidas, e sigo nessa jornada com
dedicação, enfrentando os desafios e aproveitando cada oportunidade para crescer.”
Podemos observar que o cenário é desafiador, mas também gratificante, são relatos como
esse que nos ajudam a entender como o mercado funciona, assim como nos auxilia a
compreender os desafios encontrados pela mulher empreendedora no ramo da construção
civil e dos projetos civis.