Para a segunda parte de nossa reflexão sobre Os desafios para a valorização da herança africana no Brasil vamos voltar o nosso olhar à África, berço da humanidade e de muitas das nossas manifestações culturais. Afinal, se falamos em herança pressupomos uma transmissão de algo por meio de uma sucessão. Pressupõe, portanto, um passado, uma origem que, em nosso caso, se encontra do outro lado do Atlântico.
Vamos começar por aquela que é conhecida como “Mama Africa”, Miriam Makeba. Nascida em Joanesburgo no dia 4 de março de 1932, Miriam foi cantora, compositora, atriz e ativista dos direitos humanos.
A sua carreira musical teve início na década de 1950. Em 1959 participou do filme anti-apartheid “Come Back, Africa”. Lançou seu primeiro em 1960 depois de se mudar para os Estados Unidos. Em 1967 Miriam Makeba lança uma das suas canções mais conhecidas mundialmente, “Pata Pata”.
Miriam Makeba também foi uma fervorosa ativista contra o apartheid e testemunhou contra o governo sul-africano nas Nações Unidas. Em 1990 após a queda do regime segregacionista da África do Sul, Makeba retornou à sua terra natal e continuou a se apresentar até sua morte.
Continuando na terra de Nelson Mandela vamos tratar de um grupo que ficou mundialmente conhecido em 1986 com a sua participação no álbum “Graceland” do cantor e compositor estadunidense Paul Simon.
O nome do grupo é uma homenagem à cidade natal de Joseph Shabalala, fundador do grupo, Ladysmith. Black, por sua vez, faz referência aos animais mais fortes das fazendas, black oxen, e Mambazo significa machado, um símbolo da habilidade vocal do grupo para abrir o caminho para o sucesso.
O grupo ganhou destaque internacional ao colaborar com o cantor estadunidense **Paul Simon** no álbum “Graceland” de 1986, o que lhes rendeu três prêmios Grammy. Desde então, eles continuaram a se apresentar mundialmente e a receber vários prêmios, incluindo cinco Grammys.
Ladysmith Black Mambazo é mais conhecido por suas apresentações a capella, sem o acompanhamento de instrumentos musicais. Além disso, procuram promover a cultura sul-africana por meio de músicas tradicionais.
A história deste grupo vocal se tornou um símbolo da resiliência e da beleza da música tradicional sul-africana. Por isso, Ladysmith continua a ser uma importante influência na música mundial até hoje.
Dentre os muitos lançamentos do grupo, destaco “Two Worlds One Heart”, álbum que me introduziu à musicalidade do grupo e da África.
Já ouvi alguns músicos considerarem a música ocidental como a única que desenvolveu práticas como a da harmonia e do contraponto, procedimentos que permitem a combinação de duas ou mais melodias sendo tocadas ao mesmo tempo dando origem aos acordes de violão ou outros instrumentos de acompanhamento.
A música de Sana Cissokho demonstra que tal afirmação pode não ser verdadeira. Ao ouvirmos sua performance podemos ouvir claramente uma música construída sobre progressões de acordes.
Sana Cissokho – DEMB: #YoussouNdour #SANASESSIONS Special Edition
Oriundo de Casamance, no sul do Senegal, Cissokho nasceu em uma família Mandinka Diali (ou griot), onde o kora, instrumento semelhante à harpa-alaúde, foi um elemento essencial na sua criação. Descendente de uma linhagem de mestres desse instrumentos, Cissokho incorpora o profundo significado do kora em sua herança, e leva adiante a rica tradição da música Mandé.
Essa é uma amostra muito pequena do universo musical da África e serve para conhecermos um aspecto desse continente que vai além dos estereótipos transmitidos pelos noticiários. A ideia dessa lista é, portanto, mostrar uma riqueza pouco conhecida por nós que pode nos ajudar a superar os desafios para a valorização da herança africana no Brasil, como propôs o ENEM 2024.