Esses dias, descobri que há pessoas que vivem sem aquela “voz interior”. Enquanto minha mente é quase um programa de rádio 24 horas, com análises, devaneios e até uns comentários sarcásticos, tem gente que experimenta o mais absoluto silêncio mental. Nada de diálogos internos, nada de palavras. No lugar disso, elas veem imagens, sentem sensações e, em alguns casos, só experimentam emoções. E isso me deixou intrigado.
Pesquisadores do Laboratório de Psicologia e Neurocognição do CNRS, na França, têm explorado esse fenômeno, também chamado de monologo interno, com profundidade. Em 2019, eles dividiram os monólogos internos em três dimensões fascinantes. A primeira é a dialogalidade — ou seja, o quão conversado é o seu discurso interno. Se você, como eu, debate até o pedido no restaurante com essa vozinha, parabéns, sua dialogalidade está em alta! A segunda dimensão é a condensação, que mede a capacidade de síntese dos nossos pensamentos. E, por fim, a intencionalidade, que avalia se começamos um papo interior de propósito ou se simplesmente caímos nele sem perceber. (Spoiler: a minha, nesse caso, deixa a desejar.)
Essa ideia de que nem todos precisam de uma “voz” para pensar já havia sido questionada em 1990 pela Universidade de Nevada. Eles usaram um bipe para capturar os pensamentos dos participantes em tempo real. Cada vez que o bipe soava, a pessoa anotava o que estava passando pela cabeça. Descobriram que enquanto alguns viviam numa constante radionovela mental, outros tinham menos falas ou até nenhuma voz interior.
Para essa última turma, o pensamento se expressava mais por imagens ou sensações. Esse grupo acabou associado a uma condição chamada afantasia, também conhecida como “cegueira do olho da mente” — é quando você não consegue visualizar imagens mentais.
Agora, se você é como eu, sua cabeça é tudo, menos silenciosa. Minha voz interna adora aparecer e fazer companhia. E não, não é o grilo falante do Pinóquio — já chequei. Ela está mais para um guia de turismo meio perdido, que resolve filosofar no meio do caminho ou me arrastar por assuntos aleatórios. Uma vez, comecei pensando em como resolver um problema do código de um site e acabei com a ideia de escrever sobre o monologo interno, um assunto que li sobre, há mais de 2 anos.
Uma outra característica que minha voz tem é de ser mais rápida que a minha fala. É muito comum eu interromper a fala, para desespero de algumas pessoas próximas, porque o pensamento (a voz) está 3 páginas a frete. É preciso respirar para não comprometer a coesão.
No fim das contas, seja com vozes, imagens ou em silêncio total, cada um tem seu jeito de pensar. Se minha voz interna quer falar sobre os patolas de pés azuis da Ilhas galápagos ou da pauta da próxima reunião de equipe, que seja! Porque é nesse papo interno, por mais maluco que pareça, é meu parque de diversões.