A vida e o trabalho das mulheres LBT
Todas as mulheres cis são sempre bissexuais ou lésbicas, nunca heterossexuais. É o que sugere um estudo realizado pela Universidade de Essex, no Reino Unido. Os pesquisadores mostraram uma série de vídeos de homens e mulheres nus para as participantes e o resultado foi baseado em indicadores como a dilatação de pupilas, em resposta a estímulos sexuais.
Obviamente este é apenas um estudo e nós não podemos determinar toda uma população com base apenas nele. Mas a despeito dessa provocação, eu gostaria de atentar para o fato de que a bissexualidade, a homossexualidade e a transexualidade existem! Não diz respeito a qualquer crença religiosa sobre certo e errado. Aqui nós vamos nos atentar ao aspecto da existência, de quem são e quais os direitos dessas pessoas e, principalmente sobre a lesão a esses direitos.
Como o recorte aqui é de mulheres LBT, eu quero fazer uma pequena introdução sobre a participação nessas letrinhas que definem nossa comunidade. Então dentro dos LGBTQIAPN+, eu vou falar mais detidamente das mulheres lésbicas, bissexuais e transexuais.
Enquanto para as mulheres lésbicas e bi, diz respeito à orientação sexual, ou seja, no tocante à atração sexual, a transexualidade diz respeito à identidade de gênero, já que a pessoa trans (ou travesti) se encontra em discordância entre o sexo biológico e seu gênero.
Isso quer dizer que podemos ter uma mulher trans hétero, por exemplo. Para quem não faz parte da comunidade LGBT isso tudo pode parecer um pouco confuso, mas é importante ter em mente que aqui nós temos a representação da bandeira do arco-íris como símbolo da comunidade e isso não é à toa, já que as várias cores representam toda uma diversidade na forma de ser, existir e amar.
Mercado de Trabalho
Quando falamos sobre essas mulheres no mercado de trabalho, temos um recorte bastante problemático, vez que as mulheres já se encontram em condições de desigualdade apenas pelo fato de serem mulheres.
Elas seguem ganhando menos que os homens em atuação nos mesmos cargos e estatisticamente ocupam cada vez menos posições gerenciais ainda que o nível educacional das mulheres no Brasil seja maior do que dos homens, conforme aponta o IBGE.
Essa forma como as mulheres são subjugadas e inferiorizadas é acentuada em graus ainda maiores quando falamos de mulheres pretas e mulheres pretas LGBTQIAPN+. E quando olhamos bem para o final da fila, mas muito lá no finalzinho da fila, estarão as mulheres trans pretas.
Isso num esforço para enxergá-las em tal fila, já que a invisibilização dessas pessoas é tamanha que elas sequer conseguirão se inserir no mercado de trabalho, considerando que o preconceito e as violações de direitos começam ainda na infância e seguirão por toda a vida dessa população, impedindo o acesso à educação, profissionalização e ascensão nas carreiras.
Às mulheres trans resta o trabalho sexual. Não sem razão essas mulheres possuem uma expectativa de vida de apenas 35 anos, em média. Isso tudo no país que mais consome conteúdo pornográfico com a temática trans no mundo.
Sobre as mulheres lésbicas, 8 em cada 10 já sofreram violência, conforme aponta o primeiro censo brasileiro da população lésbica. No local de trabalho, a insegurança faz com que muitas dessas mulheres não assumam sua orientação sexual ou não compartilhem de suas vidas com colegas.
Mais de 60% dos universitários recém-formados voltam para o armário quando começam no primeiro emprego por receio que tal fato influencie nas oportunidades da carreira e no relacionamento com colegas.
Quantas de vocês, mulheres heterossexuais, tiveram que, em algum momento, lançar mão de um namorado fictício para fazer cessar cantadas, assédios, investidas? Imagine então quando o namoro não é fictício, mas ele é desconsiderado ou invisibilizado por ser com alguém do mesmo sexo.
No que diz respeito às pessoas Bissexuais, que são aquelas que possuem atração sexual por mais de um gênero, são taxadas como indecisas, ou até mesmo promiscuas e sofrem igualmente os preconceitos sedimentados em nossa sociedade.
Ainda não existe legislação que trate da homofobia, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) pacificou entendimento no sentido de que é crime equiparado à injúria racial, portanto inafiançável e imprescritível. Infelizmente é somente um entendimento da Suprema Corte e não uma legislação de proteção. O que faz com que não haja segurança jurídica, já que o entendimento pode ser alterado. Mas enquanto isso, homofobia é crime!
No âmbito da Justiça do Trabalho, várias são as decisões dos tribunais pelo país que condenam empresas e empregadores por discriminação no ambiente laboral e em todas as fases da relação de emprego, conforme a Convenção 111 da OIT e a Lei 9.029/95.
São decisões condenatórias por desrespeito ao nome social de pessoas trans – que é um direito assegurado legalmente, por repreensão a empregados em razão da vestimenta, por piadinhas, entre outros. Tudo preconceito. Inclusive tem havido um movimento dos Tribunais para majorar o valor da condenação por danos morais em grau de recurso, para atingir um caráter mais pedagógico dessas condenações.
Em um caso em São Paulo o julgador aumentou o valor de R$1.500,00 para 50 mil reais. Tudo isso para oferecer um recado de que a comunidade LGBTQIAPN+ existe e deve ser respeitada.
Mesmo assim, um terço das empresas no Brasil não contratariam membros da comunidade LGBTQIAPN+ para assumirem cargos de liderança; mais de 40% afirmam já terem sofrido discriminação no trabalho por ser LGBT; mais de 60% escondem a sexualidade de seus gestores ou colegas.
Se você é LGBT e passou por algum caso de homofobia, denuncie! Se você não está na comunidade das letrinhas, ajude espalhar o respeito. Conscientização é sinônimo de inclusão.
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