A Organização Mundial da Saúde, OMS, fez um alerta sobre a falta de morfina em muitas partes do mundo. No relatório “Deixados para Trás com Dor”, a agência relata que muitas pessoas sofrem de dores que poderiam ser prevenidas, devido à escassez do medicamento.
O levantamento indica que, anualmente, uma em cada duas mortes no mundo está associada com sofrimentos graves derivados de condições médicas. O uso adequado de morfina pode aliviar essas dores e aumentar a qualidade de vida.
Duas crises
De acordo com o relatório, o mundo enfrenta duas crises relacionadas aos opioides. A primeira é o uso indevido e indiscriminado, combinado com a ampla disponibilidade de opioides ilícitos e não regulados, como o fentanil.
A segunda é a falta de acesso a opioides para gerenciamento da dor, especialmente no contexto de cuidados paliativos para pacientes terminais.
A morfina é considerada o mais alto padrão de tratamento para alívio da dor e integra a lista de medicamentos essenciais da OMS desde 1977.
Apesar da sua importância, o acesso à droga, no mundo todo, é dificultado por falta de coordenação na cadeia de abastecimento, falta de recursos humanos e desinformação.
Pessoas em necessidade sem acesso
Outra barreira é a existência de legislações excessivamente restritivas, que tornam a prescrição e a dispensação mais difícil para profissionais de saúde.
O inquérito da OMS, envolvendo 105 países, chegou nos seguintes dados: 50% dos entrevistados de países de renda baixa afirmaram que 8 em cada 10 pessoas não receberam morfina ou outros opioides apesar de haver necessidade médica.
Já nas nações de renda média-baixa, 18% dos entrevistados relataram este mesmo quadro. O financiamento limitado foi observado em ambos os grupos de países como uma barreira que contribui para o fornecimento irregular de morfina e outros opioides em unidades de saúde.
O estudo conclui que a distribuição global de morfina para uso médico é desigual e não é baseada na necessidade.
“Desigualdade hedionda”
O levantamento revelou que o consumo de morfina, calculado em quantidades de doses diárias, é 63 vezes menor em países de renda baixa, em comparação com países de renda alta.
Os dados corroboram aqueles do relatório de 2018 da Comissão Lancet, que descreveu a falta de acesso a medicamentos de alívio da dor como “uma das desigualdades mais hediondas e ocultas na saúde global”, com os países mais ricos detendo 90% da distribuição dos opioides equivalentes à morfina.
A assistente do diretor-geral da OMS para Medicamentos e Produtos de Saúde, Yukiko Nakatani, disse que é necessário agir com urgência para garantir, em todas as partes, “acesso seguro e oportuno à morfina para aqueles com necessidade médica através de políticas balanceadas.”