sábado, 23 de novembro de 2024

A ideia depois de um longo processo de gestação 

Um tanto de enjoô. Uma vontade desmedida de vomitar. Vo-mi-tar.

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Um anúncio: Estou grávida. “O nascimento de uma ideia é precedida por uma longa gestação”, já havia caracterizado Clarice Lispector nesta emblemática frase de seu conto História Interrompida, escrito em 1940-1941. Algo em mim está a nascer; estado de potência e de vir a ser. Mas não sei a forma, a cor, o gênero, o conteúdo e nem mesmo a finalidade do que está por vir.

Só sei que o até então inominável virá. Não sei nem se sentirei dor durante o parto. Se eu ou a ideia vamos morrer durante o processo. Será que o projeto de ideiazinha morrerá antes mesmo de vir a ser? Ou seu nascimento já foi premeditado pelo que chamam de deus ou destino? Apenas perguntas. Sim. 

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Das poucas coisas que sei sobre essa questão, carrego comigo a certeza de que terei que cuidar muito da ideia em seus anos iniciais. Imunidade baixa, falta de conhecimento sobre a vida, inexperiente à linguagem, incapacidade de andar sem ser carregada: em sua totalidade, um ser dependente.

Se durante essa gestação me dedico à ideia que ainda nem surgiu, após ela serei confundida com a própria ideia. Eu, como criadora, também serei criada por ela. Me ensinará.que.é.preciso.paciência. Que o amor é também constituído pela dor e pelo choro.

A ideia, meus queridos, nasce aos prantos. E ela me mostrará que apesar de amá-la, questionarei de tempos em tempos o amor. Perguntarei até mesmo se a ideia foi uma boa ideia; e se ela de fato veio em hora oportuna. Vez por outra indagarei-me se tenho condições de cuidar da recém-nascida, pois quem mesmo no mundo tem tempo para pensar?

Sim, não sei de muita coisa, mas pensadores experientes já me aconselharam dizendo que depois que crescer, a ideia tornar-se-á livre. Tão livre que pedirei perdão por ter inveja de tamanha liberdade. Pois bem, respondi: – Inveja? No mínimo serei inspirada pela mais genuína liberdade.


(Choro)
(Grito)
(Quase morte)
(Desespero)

(O nascimento)

Nasceu.

No fim de todo processo de pensamento, aceitei que sou criadora. Carrego comigo a missão de criar uma ideia para a liberdade – jamais para mim. Após concluir meu árduo papel, assumo pela primeira vez ao mundo: Sou livre!

Posso pensar.

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Thaiz Lepaus
Thaiz Lepaus
Thaiz Lepaus é estudante de Jornalismo e acredita na capacidade transformadora das palavras

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