quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Morre aos 92 anos Boris Fausto, um dos principais historiadores do Brasil

Em 2014, o historiador Boris Fausto lançou o livro “O Brilho do Bronze”, um diário escrito ao longo dos meses seguintes à morte de Cynira Stocco, com quem ele havia sido casado por quase cinco décadas.
Em um trecho, Boris comenta uma entrevista de dom Paulo Evaristo Arns. “A certa altura, ele diz: ‘Estou preparado para a morte, mas não tenho pressa’. Da minha parte, pressa também não tenho. Algum dia estarei preparado?” 

Continua após a publicidade

Preparado ou não, um dos maiores historiadores do país, autor de livros fundamentais para a compreensão do Brasil do século 20, morreu nesta terça-feira (18) aos 92 anos em São Paulo. O velório será na quarta-feira (19). Em junho de 2021, havia sofrido um AVC (acidente vascular cerebral), mas teve recuperação razoável nos meses seguintes.

“O Brilho do Bronze” é o ápice da fase memorialista do autor, que começou com “Negócios e Ócios: Histórias da Imigração” (1997) e se estendeu até “Vida, Morte e Outros Detalhes” (2021), com produções de outros gêneros entre eles. São livros em que Boris une as reminiscências da vida familiar, da comunidade judaica e do cotidiano paulistano, além de reflexões sobre temas diversos, da finitude ao futebol.

Embora escritas com precisão e graça, não foram as obras desse período que o consagrou. Seu primeiro livro, “A Revolução de 1930” (1970) influenciou a sua geração de historiadores e as seguintes. Não tardou para que fosse visto como um clássico, assim como “Crime e Cotidiano” (1984), um estudo pioneiro sobre a criminalidade em São Paulo.

Ele pôde se aprofundar nas pesquisas para esse livro graças, entre outros fatores, à sua experiência como advogado, seu primeiro ganha-pão. Boris Fausto, hoje quase sinônimo de historiador voltado às questões brasileiras, não dedicou sua juventude a esse campo de estudo diretamente. Foi, como ele costumava dizer, um historiador tardio.

Nascido em São Paulo em 1930 (justamente o ano-tema do seu livro mais festejado), era o primogênito de uma família de origem judaica. Seus pais, Simon e Eva, tiveram outros dois filhos, Ruy, que se tornou filósofo de prestígio, e Nelson, médico de carreira bem-sucedida nos EUA.

Um episódio traumático afetou sua infância -na verdade, toda a vida. Quando ele tinha 7 anos, sua mãe começou a passar mal em uma praia de Santos e morreu instantes depois. Negociante de café, imigrante da classe média paulistana, Simon entregou os meninos para que fossem criados pela tia Rebeca, irmã da mãe.

O abalo tornou os irmãos ainda mais próximos. Passavam horas jogando futebol no quintal da casa da avenida Angélica, em Higienópolis, com Boris como goleiro. Vem dessa época a paixão pelo Corinthians, um contraponto à racionalidade na vida pessoal e na carreira. Seu grande ídolo foi o meia José Augusto Brandão, que jogou no time alvinegro nas décadas de 1930 e 1940.

Interessava-se por literatura desde menino, e os estudos em colégios tradicionais de São Paulo também aguçaram nele a curiosidade pela política. Essa combinação o conduziu ao curso de direito -acreditava que receberia uma formação ampla no campo das humanidades; além disso, eram poucas as opções de carreira no fim dos anos 1940, quando ele entrou na faculdade no Largo de São Francisco.

Sem entusiasmo pelo curso, dedicou-se mais às questões políticas do que às jurídicas. Ao lado do irmão Ruy, aderiu enfaticamente ao trotskismo, “uma doença infantil contraída na idade adulta, que durou dez anos”, como disse em uma longa entrevista no livro “Leituras Críticas sobre Boris Fausto”, organizado pela também historiadora Ângela de Castro Gomes.

Continua após a publicidade

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Vitória, ES
Amanhecer
04:59 am
Anoitecer
05:50 pm
24ºC
Chuva
0mm
Velocidade do Vento
8.23 km/h
01/11
Sex
Mínima
21ºC
Máxima
25ºC
02/11
Sáb
Mínima
21ºC
Máxima
25ºC
03/11
Dom
Mínima
22ºC
Máxima
25ºC
04/11
Seg
Mínima
22ºC
Máxima
25ºC
Colunistas
Myrna Morelli

Brasil, terra do Saci: vamos celebrar nosso folclore!

Leia também