A atividade econômica global vive uma desaceleração generalizada. Essa é uma das conclusões do Panorama Econômico Mundial, lançado nesta segunda-feira.
De acordo com o documento elaborado pelo Fundo Monetário Internacional, FMI, o crescimento em 2023 deve ficar em 2,8%. O valor é bem menor que a previsão de 3,4%, feita pelo órgão no ano passado.
Setor de petróleo e gás corresponde a 13% do PIB brasileiro
Crescimento x endividamento
Segundo o levantamento, a desaceleração econômica deste ano está concentrada nas economias avançadas, especialmente na zona do euro e no Reino Unido. Por outro lado, muitos mercados emergentes e economias em desenvolvimento estão se recuperando, com o crescimento ano a ano acelerando para 4,5% em 2023.
A projeção de aumento do Produto Interno Bruto, PIB, para Angola é de 3,5% este ano. Para Cabo Verde 4,4%, Guiné-Bissau 4,5%, Moçambique 5% e São Tomé e Príncipe 2%. Em relação ao Brasil, a projeção ficou em 0,9%. Já em Portugal, o crescimento econômico deve avançar 1%.
Entretanto, os países de língua portuguesa são marcados por alto endividamento público, com destaque para Moçambique. O relatório indica que o país africano ultrapassa 90% de endividamento em percentual do PIB, apesar de ter passado por dois processos de restruturação da dívida nos últimos anos.
A desaceleração econômica da América Latina e Caribe e a pandemia tiveram impactos nos trabalhadores informais
Estagnação prolongada
Para 2024, a expectativa é de que o aumento da atividade econômica global chegue a 3%. O FMI aponta que este é o crescimento mais fraco desde 2001, excluindo os períodos da crise financeira global e a fase aguda da pandemia de Covid-19.
No médio prazo, os dados apontam uma estagnação prolongada. O crescimento deve ficar em torno de 3% nos próximos cinco anos. A previsão é considerada a mais fraca desde 1990.
Segundo o diretor de pesquisas do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, a crise do custo de vida, o aperto das condições financeiras na maioria das regiões, a guerra na Ucrânia e a persistente pandemia pesam muito nas perspectivas.
Inflação persistente
Outro ponto de preocupação é a inflação, considerada a acima da média observada nas últimas décadas. No curto prazo, o FMI espera uma redução da pressão inflacionária, caindo de 8,7% ano passado para 7% este ano e chegando a 4,9% em 2024.
Entretanto, Gourinchas afirma que a inflação pode se revelar mais persistente, resultando na necessidade de maior aperto econômico.
De acordo com ele, a luta contra a inflação deve permanecer como a prioridade dos bancos centrais. Para o diretor de pesquisa, o aumento dos juros em vários países, somado a uma alta histórica do endividamento, pode gerar uma contração econômica mais intensa.
A análise indica também que os ganhos salariais nominais continuam abaixo dos aumentos de preços, implicando uma queda nos salários reais.
Um cliente compra mercadorias em uma mercearia em Karachi, no Paquistão.
Riscos
Um dos principais riscos identificados pelo FMI é a instabilidade no setor bancário. Para o órgão, o rápido aperto da política monetária do ano passado provocou perdas consideráveis em ativos de renda fixa de longo prazo e elevou os custos de financiamento.
O alto endividamento público de vários países é apontado como outro fator de risco que reduz a margem de manobra dos governos para lidar com choques externos.
O FMI também anunciou nesta segunda-feira o Relatório de Estabilidade Financeira de 2023. O documento aponta especial preocupação com a crise no sistema bancário. De acordo com os dados, as vulnerabilidades do setor são intensificadas em momentos de política monetária mais restritiva.
A análise também aponta os efeitos das tensões geopolíticas na fragmentação financeira e explora suas implicações para a estabilidade da economia global. Alguns exemplos são o risco de interrupções de pagamentos internacionais e reversão de fluxos de capital.
Otimismo
Apesar do cenário de incertezas, o FMI aponta que as interrupções na cadeia de suprimentos estão diminuindo. As oscilações de preço de alimentos e energia causadas pela guerra na Ucrânia também mostram tendência de queda.
O órgão espera ainda que o aperto massivo e sincronizado da política monetária pela maioria dos bancos centrais comece a dar frutos, com a inflação voltando para as metas.