O Fundo Internacional das Nações Unidas para o Desenvolvimento Agrícola e o Banco Africano do Desenvolvimento unem forças para resolver problemas de produtividade agrícola em África, produzindo alimentos de forma sustentável no continente.
A intenção foi formalizada num acordo que vai apoiar à Missão Pan-Africana, 1 para 200, cujo foco é aumentar a produção agrícola, dobrando os níveis de produtividade através da expansão das agrotecnologias, investindo no acesso aos mercados e promovendo pesquisa e desenvolvimento agrícola.
Dependência de importação
A ação surge num contexto em que a segurança alimentar de milhões de africanos continua a ser afetada pela subida dos preços dos alimentos e dos combustíveis. A situação pode ser agravada ainda mais pelas ameaças de uma crise de dívida em alguns países.
A iniciativa conjunta quer construir sistemas alimentares sustentáveis, inclusivos e adaptados ao clima e reduzir a dependência de importação de alimentos, fornecendo apoio aos pequenos agricultores.
O Presidente do Fundo, Álvaro Lario, explica como a atual convergência de crises expôs as questões estruturais subjacentes que afetam a agricultura e os sistemas alimentares e disse que muitos países da África precisam encontrar soluções agora para evitar consequências mais extremas.
Fertilizantes e abastecimento
O Fundo da ONU considera a alta nos preços dos fertilizantes um obstáculo para a produção de alimentos em muitos países africanos e prevê que limitadas importações de grãos devido a guerra na Ucrânia e fatores ambientais acabem afetando o abastecimento de alimentos no continente.
Segundo o Fundo Monetário Internacional, FMI, desde 2020, houve um aumento de 8,5% no custo de uma cesta básica de consumo alimentar em África. As altas taxas de juros e a desvalorização da moeda agravam a dívida em muitos países de baixa renda.
Cerca de 60% dos países estão em alto risco ou em sobreendividamento que expõe países a calote da dívida em meio a uma crise alimentar histórica.
Taxas de fome
O M1-200 busca atrair investimentos para impulsionar pequenas e médias empresas do setor agrícola. A iniciativa garantirá que pequenos produtores de alimentos em toda a cadeia de valor agrícola sejam incluídos e que empregos adicionais sejam criados para aqueles que precisam.
Os últimos choques econômicos e sociais induzidos pelo clima reverteram anos de ganhos em desenvolvimento e aumentaram a fome e a pobreza extrema em África, o continente com maiores taxas de fome no mundo.
Uma pessoa, em cada cinco, sofre de fome em África e 278 milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar, conforme o último relatório da ONU sobre a situação deste flagelo.
Projeções indicam que o agronegócio em África produza US$ 1 trilhão até 2030 e apresente uma boa oportunidade de negócios para os investidores.
Pequenos agricultores
O presidente do Fundo da ONU realça que só investindo nos pequenos agricultores se pode resolver a espiral descendente de crise pós crise.
Os investimentos estratégicos podem aumentar a produtividade agrícola, construir soberania alimentar e abrir caminho para uma distribuição e acesso mais equitativo aos alimentos.
Ele enfatizou ainda o compromisso de investir na transformação da agricultura africana e no desenvolvimento rural por meio de parcerias público privadas, lembrando que o Fundo pode reunir volumes muito maiores de financiamento.
A parceria é base do Feed Africa, principal estratégia do Banco Africano e complementa os principais programas do Fundo da ONU, incluindo sua carteira de investimentos nas áreas de transformação rural inclusiva, desenvolvimento agrícola, nutrição, segurança alimentar e adaptação climática.
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