Frutas e cascas esculpidas à mão e cristalizadas em grandes tachos de cobre numa calda espessa de água e açúcar. Tradição do interior de Minas Gerais, os Doces do Carmo de Rio Claro foram servidos como sobremesa no jantar da cerimônica de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no domingo (1º). Abóbora, mamão, abacaxi, figo e laranja foram os sabores escolhidos para adoçar o fim do evento.
O pedido à doceira Maria Rita Dias de Paula, ou Rita Doceira, responsável pela remessa de 90 quilos de doces enviada para Brasília, partiu do cerimonial do Itamaraty, velho cliente do quitute mineiro. Já na década de 1980, os Doces do Carmo do Rio Claro eram servidos em cerimônias de Estado brasileiras.
Nas andanças pelo mundo, essas joias teriam chegado até à cerimônia de casamento da princesa Diana com o príncipe Charles em 1981. Na época, Diana teria conhecido o doce por meio do embaixador brasileiro em Londres e se encantado.
Não é para menos. Os doces são mesmo de encher os olhos. Esculpidos de forma manual e com cores vibrantes – verde, amarelo e laranja predominam – , eles mais parecem joias. Na verdade, são. Joias da doçaria nacional.
Compotas e cristalizados são uma marca da época em que a mineração dominava o Brasil. Como eram poucos os recursos e muitas as pessoas para alimentar, ovos e leite eram usados preferencialmente nas refeições do dia a dia. Para os doces, restavam frutas e açúcar, compotas e cristalizados, por consequência.
Mas, da doçaria do tempo da mineração às joias doces do Carmo do Rio Claro, muitos anos se passaram. Foi somente no início do século 20 que a arte dos doces bordados se instalou na cidade de pouco mais de 21 mil habitantes do Noroeste de Minas Gerais.
Tradição dos Doces do Carmo do Rio Claro começou no início do século 20
Quem primeiro teve a ideia de esculpir as cascas e frutas foi uma jovem moradora da cidade na época: Nicota Vilela. Estudante do Colégio Sagrados Corações de Jesus e Maria, a jovem fez os primeiros desenhos no doce de casca de mamão.
Seguiu aperfeiçoando a sua arte ao longo dos anos. Primeiro, com a ajuda do pai e, depois, do marido. Eles preparavam as ferramentas para facilitar o trabalho de Nicota no bordado das frutas. No casamento sobrinha, ela encantou os convidados quando foram servidas as bandejas com os belos doces. Estava instalada uma tradição.
Quem conta a história são as pesquisadoras Ana Alice Corrêa, Suely Quinzani e Zenir Ferreira na edição de julho de 2017 da Revista Contextos da Alimentação, Senac-SP. No texto, elas mostram, por meio de diversa entrevistas, a história dos belos e famosos doces que deram fama à cidade mineira.
4,5 mil unidades de doces foram enviados para cerimônia de posse
Passada de geração em geração, a tradição dos doces cristalizados segue sendo feita de forma artesanal. Na maioria dos casos, o bordado sai das mãos de mulheres e boa parte da família está envolvida na produção. Foi assim com Maria Rita, a doceira responsável pelos doces enviados para Brasília. Ela aprendeu a arte do bordado em frutas cristalizadas com a mãe.
Segundo reportagem do Potal G1, para atender ao pedido do Itamaraty – quase 4,5 mil unidades de doces – , Rita envolveu todos da família na produção. Até o pai de 83 anos ajudou a filha a finalizar o pedido, no qual foram utilizados pouco mais de 200 quilos de frutas.