19 de dezembro de 2025
sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

A solidão faz bem

Hoje em dia, parece que ficar triste virou quase um pecado capital. Na era do excesso de informações, especialmente nas redes sociais, a gente vê uma festa infinita de sorrisos, conquistas e pessoas cercadas de amigos. E, por dentro, às vezes a gente se sente sozinho. E aí vem aquela culpa: “O que há de errado comigo?”, a gente pensa. Mas vou te contar um segredo: talvez não tenha nada de errado. Talvez esse encontro obrigatório com a nossa própria sombra seja o que há de mais importante na nossa vida.

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Falo daquela solidão que dói. Não daquela que escolhemos para curtir um bom livro ou um café tranquilo. Falo daquela que aperta o peito, que faz a gente vasculhar o celular atrás de uma mensagem que não chega, que deixa a mente cheia de perguntas sem respostas. É desconfortável. É amargo. Mas, entre nós, é nesse chão árido que a gente cresce mais.

Lembro de uma frase de Carl Gustav Jung que realmente me tocou: “Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta.” Você consegue entender a dimensão dessa ideia? O “despertar” que ele cita é exatamente o que a solidão, muitas vezes forçada, nos leva a fazer. 

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Para quem é extrovertido, aquele amigo que é a alma da festa, que se anima na multidão, falante e super observador, ficar sozinho pode parecer um verdadeiro castigo. É como tentar tirar um peixe da água. A quietude fica parecendo uma pedra no sapato. Mas é justamente ao encarar essa pedra que ele descobre que dentro de si há um mundo inteiro, cheio de cores, sons e emoções que ele nem imaginava existir.

Para quem é introvertido, a experiência costuma ser diferente, e nem sempre mais fácil. É verdade que tem gente que tende a passar mais tempo dentro da própria cabeça, e o silêncio do lado de fora pode até parecer bem-vindo. Mas o desafio mesmo está no barulho que vem de dentro, aquela enxurrada de pensamentos, a autocrítica que não fica quieta. Nesse caso, a solidão pode trazer uma pressão diferente, como a ideia de precisar “aproveitar” o tempo sozinho de forma produtiva. Mas, às vezes, tudo o que a gente realmente precisa é simplesmente… sentir.

Mas seja qual for o seu jeito de ser, uma coisa é certa, fugir desse encontro é adiar a conta. A gente virou uma geração com medo de ficar entediada, frustrada, triste. Corremos pros stories, séries, podcasts, qualquer coisa que nos poupe de encarar o vazio. Só que é aí que mora o perigo. Porque a vida real, a vida que importa, é feita de claro e escuro. Uma pessoa que está “alegre” o tempo todo não é real, é um personagem. E, na moral, é também um pouco chata, né? Parece aquela luz de escritório, constante e artificial, que nunca revela a verdadeira textura das coisas.

A frustração, a melancolia e a solidão não são inimigas. Na verdade, são professores difíceis, mas justos. Elas nos ensinam que podemos confiar em nós mesmos. Nos ajudam a descobrir do que realmente gostamos, sem influências externas do grupo. Além disso, nos obrigam a encontrar recursos internos que nem sabíamos que possuíamos. No fundo, amadurecer é isso, deixar de esperar que o mundo inteiro se ajuste às nossas expectativas para nos sentirmos bem, e aprender a encontrar um pouco de paz mesmo quando tudo ao redor (e dentro de nós) está silencioso.

Da próxima vez que a solidão bater à sua porta, não feche a cara nem tente fugir. Deixe ela entrar, ofereça um chá (mesmo que seja só na imaginação) e ouça o que ela tem a dizer. Pode parecer difícil no começo, mas é uma dor que ajuda a crescer, igual aquela que sentimos nos músculos depois do treino na academia. No final, você vai sair desse momento mais inteiro, mais consciente de si mesmo. E, de forma até irônica, vai se sentir muito mais capaz de se conectar de verdade com os outros. Porque só consegue amar bem quem já se conhece e se aceita na solidão e na alegria.

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Cínthia Aguiar
Cínthia Aguiar
Minha vida é marcada pela curiosidade e pela busca por conhecimento. Tenho uma trajetória acadêmica e profissional bem diversificada. A psicologia junguiana, no entanto, ocupa um lugar especial em meu coração. Sou especialista em psicologia junguiana, estudante assídua de símbolos e arquétipos. Sempre com uma xícara de café na mão, buscando respostas para as grandes questões da existência. Acredito que o autoconhecimento é a chave para uma vida mais plena e autêntica.

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