5 de dezembro de 2025
sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Minas Gerais é mais do que pão de queijo

No último domingo, dia 17, foi comemorado o dia do pão de queijo. Iguaria apreciada no Brasil inteiro, o pão de queijo é um produto típico de Minas Gerais e uma das muitas contribuições dos mineiros para as mesas e a cultura brasileira.

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Uma outra importante contribuição é a música e não só a produzida pelo Clube da Esquina e outros nomes conhecidos da MPB. A música mineira é importante desde os tempos do Brasil colonial.

História da Música Brasileira – Cap. 3. A música no período áureo de Minas Gerais

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A produção musical na Minas Gerais colonial constitui um campo de estudo notavelmente rico e complexo, cujo valor transcende a análise estritamente técnica ou estilística. Ela se constitui em uma janela privilegiada para compreender as dinâmicas sociais, econômicas e culturais de uma sociedade singular, moldada pela riqueza mineral, pela escravidão e por uma intensa vida religiosa.

O contexto de prosperidade gerado pela exploração de ouro e diamantes, e pela autonomia da Capitania em 1720, criou as condições ideais para um florescimento cultural ímpar no Brasil Colônia. Curiosamente, o ápice da produção musical coincidiu com o declínio da mineração, sustentado por uma economia ainda favorável e pela disponibilidade de recursos que permitiram investimento em arte e cultura.

O cenário musical era impulsionado principalmente pelas irmandades leigas e confrarias, instituições centrais na estrutura social da época. Estas associações, que variavam em prestígio e composição étnica, funcionavam como as principais patronas da arte. Elas encomendavam obras, contratavam músicos e organizavam as grandiosas festas que marcavam o calendário da Capitania. Destaque para a Confraria de Santa Cecília, que possuía um caráter ambíguo, atuando simultaneamente como grêmio religioso e associação profissional, regulamentando o acesso à profissão através de exames e estipulando os preços dos serviços.

A produção musical era predominantemente realizada por músicos mestiços, seguidos por negros (tanto livres quanto escravizados que atuavam com permissão) e, em menor número, brancos. Esta predominância mestiça diz muito sobre como era a sociedade da época.

HISTÓRIA DA MÚSICA BRASILEIRA – PERÍODO COLONIAL

Enquanto os brancos europeus se dedicavam ao comércio, à burocracia e à propriedade de terras, e a grande massa de negros cativos era destinada ao trabalho braçal, as artes e os ofícios especializados surgiam como uma via de ascensão e mobilidade social para os mestiços. A música, portanto, não era apenas arte; era uma estratégia de sobrevivência e afirmação em uma sociedade rigidamente hierarquizada.

Estilisticamente, os compositores mineiros demonstravam um domínio sofisticado das linguagens europeias pós-barrocas e clássicas. No entanto, eles reinterpretam criativamente a linguagem musical do velho mundo e conferiam a ela uma sonoridade única e adaptada às necessidades do culto religioso e da vida social local. A música sacra predominava, mas a produção profana também existia, presente em teatros, saraus privados das elites e nas próprias festas públicas.

A preservação desse vasto repertório só foi possível por causa do meticuloso trabalho dos copistas. Suas anotações marginais nas partituras, muitas vezes carregadas de comentários pessoais e bom humor, oferecem insights preciosos sobre o cotidiano e as mentalidades da época.

HISTÓRIA DA MÚSICA BRASILEIRA – PERÍODO COLONIAL

Por fim, as festas religiosas eram o ápice desse ecossistema, eventos onde música, teatro, fé e poder se entrelaçam. Elas cumpriam uma função social dupla: buscavam promover a coesão em torno dos ideais do Estado Cristão, mas também reafirmaram as hierarquias vigentes. A música era elemento indispensável nesse ritual, capaz de, momentaneamente, unir toda a sociedade em uma experiência coletiva de sonoridade e devoção.

Como podemos ver, da mesma forma que a culinária mineira vai além do pão de queijo, a música de Minas Gerais é mais do que as rádios e as plataformas de streaming conseguem nos mostrar. Parece que até na música o mineiro come quieto.

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Ulisses Mantovani
Ulisses Mantovani
Bacharel em Música da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), violeiro, compositor e Servidor Público Estadual

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