Após se recuperarem da apresentação de Laura, era a vez de Leonardo se apresentar. Leonardo, que tinha pele morena, traços que lembravam alguns povos árabes, cabelos cacheados castanho-claros e cerca de 1,72m de altura, era o tipo de pessoa que fazia todos ao seu redor lembrarem que, muitas vezes, a sorte realmente tem seus favoritos.
Filho de um funcionário de alto escalão de um banco internacional e de uma socialite que se casou novamente com um herdeiro de poços de petróleo, Leonardo não era apenas alguém que nasceu em berço de ouro, mas também o filho da sorte mais inacreditável que alguém teria o prazer ou desprazer de conhecer. Ele sempre conseguia ganhar tudo a que se propunha: apostas, jogos de cartas, tabuleiros, videogames, bingo, tudo. Era capaz de apostar até naqueles sites duvidosos de apostas e ainda por cima sair ganhando.
Mas, apesar de ter nascido no privilégio e com uma sorte de causar inveja, Leonardo também era alguém que ajudava os outros e, estranhamente, muito humilde — influência do avô, um homem que acreditava no carma e ensinou o neto a sempre ser bom com as pessoas, para que sua sorte nunca o abandonasse.
— Então, meu nome é Leonardo Moreira Albuquerque, tenho 15 anos e faço aniversário dia 10 de novembro. Apesar dos meus sobrenomes serem tipicamente brasileiros, na verdade tenho forte descendência árabe por parte de pai, mas quando meu avô veio para o Brasil, ainda jovem, decidiu mudar o nome e o sobrenome para “recomeçar” e tirar todo o mal e azar da vida passada, ou algo assim — explicou Leonardo. Embora todos já tivessem ouvido histórias sobre a obsessão do avô com a sorte, mudar de nome e sobrenome parecia algo extremo, mesmo para o padrão do senhor Fortunato. — Mas chega, essa apresentação é sobre mim, não sobre aquele velho doido. Sobre meus hobbies: gosto muito de jogos de cartas e de colecionar moedas raras; também gosto de apostar, e sempre ganho. Adoro as cores dourado e prata e minhas comidas favoritas são pizza e torta de chocolate belga com creme de avelã.
— Obrigado pela apresentação, Leonardo — disse Dmitri, enquanto o garoto voltava para sua mesa. — Então, gente, vamos agilizar porque nosso tempo está acabando. O próximo é o Lucas.
Ao ouvirem esse nome, todas as meninas reviraram os olhos e soltaram um suspiro de frustração. Lucas era, usando palavras mais delicadas do que elas usariam, um machista da pior espécie — e conseguira a proeza de conquistar o ódio de todas as meninas, inclusive Helena e Manuela, que eram mais gentis e pacientes do que a maioria. Ele vivia falando sobre as características que mais detestava nas meninas. Por exemplo: dizia que Ana era uma falsa puritana e precisava ser “pegada” por um homem de verdade para aprender; que Aurora não deveria se importar tanto com os estudos, já que era loira e tudo que os homens gostavam era de uma loirinha burra; que Gabriela era chata, mas gostava do fato de ela não falar muito, pois odiava mulheres que “falavam demais” e não “conheciam seu lugar”; que Giovanna era uma esquisitona e deveria ser queimada como a bruxa que era; que Helena só namoraria esquisitos com tara em asiáticas; que Julieta era covarde e jamais seria uma mulher “de verdade”; que Laura era a gêmea menos bonita e era nojenta por fazer boxe e ter “músculos masculinos”; que Manuela era “doente mental” por pintar o cabelo de azul e por ter perdido os pais quando bebê, sendo por isso uma “mulher estragada e anormalmente alta”; que Maria Alice era apenas uma revoltada que nunca conheceu um homem de verdade para lhe dar uma “lição”; e que Ofélia era burra por perder tempo com artes e usaria essa desculpa para trair o futuro marido.
Sim, esse era Lucas. Não foi surpresa quando nenhuma das meninas prestou atenção à apresentação dele, que, para falar a verdade, mal foi uma apresentação: ele apenas disse o nome e a idade e voltou para sua cadeira.
