Os costumes e práticas do passado frequentemente nos levam a reflexões sobre como vivemos hoje. Afinal, muitos hábitos que consideramos antiquados trazem explicações curiosas e até inusitadas. O buquê das noivas, por exemplo, símbolo de romantismo e beleza, tem uma origem que pouca gente conhece: ele foi inicialmente criado para disfarçar odores corporais que eram difíceis de suprimir na Europa medieval.
Na Idade Média, os hábitos de higiene eram precários. Não havia escova de dentes, desodorantes, perfumes ou sequer saneamento básico. Banheiros eram inexistentes, até mesmo nos lugares mais luxuosos, como o famoso Palácio de Versalhes, na França, que recebe milhares de visitantes todos os anos. Naquela época, os excrementos humanos eram simplesmente arremessados pelas janelas, e os belos jardins do palácio funcionavam como toaletes improvisados durante festividades e eventos promovidos pela monarquia.
Os nobres, que desfrutavam de luxos comparados aos de um povo comum, também não escapavam das adversidades da falta de higiene. Sem água encanada e com o clima frio como barreira, tomar banho era um evento raro, limitado ao início do verão. Daí surgiu o costume de realizar casamentos no mês de junho, logo após o banho anual da família em maio, quando os odores ainda eram mais suportáveis. Conforme o tempo passava e os odores começavam a incomodar, as noivas carregavam buquês de flores próximo ao corpo para mascarar o cheiro, dando origem ao tradicional acessório que conhecemos hoje.
Outro costume curioso da época envolvia o banho em grupo. O chefe da família tinha o privilégio de mergulhar na água limpa de uma grande banheira aquecida, seguido por todos os outros membros, até chegar às crianças e, por último, aos bebês. Quando os mais novos finalmente se banhavam, a água estava tão suja que surgia o risco de acidentes fatais. Foi dessa prática que nasceu a expressão “jogar fora o bebê com a água do banho”.
Ainda na Europa medieval, os funerais também carregam histórias instigantes. O velório, por exemplo, surgiu para garantir que o falecido não estivesse, na verdade, vivo. Com os hábitos de consumo como a ingestão de óxido de estanho presente em alimentos e bebidas, e a falta de conhecimento médico, algumas pessoas entravam em estado de narcolepsia e eram dadas como mortas. Para evitar que alguém fosse enterrado vivo, o corpo era colocado em exibição, alimentando aquele costume de “vigília” pelos entes queridos.
Essa preocupação também levou à criação de uma engenhosa solução na Inglaterra: amarrava-se uma tira de tecido ao pulso do falecido, conectada a um sino preso à superfície. Um vigia se posicionava próximo ao túmulo para monitorar o possível movimento associado a um despertar. E se o “falecido” conseguisse se mexer e tocar o sino, estaria literalmente “salvo pelo gongo”, uma expressão que ainda utilizamos hoje.
Esses costumes históricos são um reflexo de uma época em que os avanços tecnológicos e de higiene estavam longe de serem conquistados. Mas, além das peculiaridades e das dificuldades enfrentadas por nossos antepassados, eles também nos ajudam a entender como tradições e expressões que consideramos naturais hoje, foram moldadas. A próxima vez que você estiver em um casamento e admirar o buquê da noiva, talvez fique mais curioso sobre as flores escolhidas, será que elas disfarçam algum simbolismo oculto do passado?