sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

Capítulo 5: a verdade que apenas os arcanos podem nos revelar

Após andar pelo corredor na ponta dos pés e tomando muito cuidado para não acordar os seus colegas, Gabriela enfim chegou até o apartamento de Giovanna e, ainda receosa, tocou a campainha. Demorou um tempo até que a porta fosse aberta e ela pudesse entrar (porta essa que tinha sido pintada em um rosa muito suave e que tinha estrelas desenhadas nela). Ao entrar, Gabriela se sentiu como se tivesse entrado naquelas barraquinhas de cartomantes que tinham em desenhos e filmes; o teto era todo pintado como um mapa completo do sistema solar, desde os planetas até as estrelas e as luas. No centro, havia uma mesa redonda com duas cadeiras, uma de frente à outra. Também havia três estantes cheias de livros e de objetos muito esquisitos. Alguns dos exemplos eram uma mão que parecia uma pata de macaco, um cubo muito estranho, uma varinha, uma espada, uma taça, uma pequena estátua que parecia ser de algum deus ou entidade que ela não sabia qual era, entre vários outros, alguns tão estranhos e peculiares que Gabriela nem sabia o que eram.

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Outra coisa que chamava atenção naquele apartamento era a iluminação vermelha que dava um ar místico para aquele lugar, além das lanternas e velas espalhadas por todo canto. As cortinas pareciam véus azuis com estrelas e na parede ao lado da mesa havia um pentagrama enorme desenhado. Ao olhar para o apartamento, Gabriela não sabia exatamente o que deveria sentir. Ela definitivamente não estava com medo nem nada parecido, na verdade, estava muito curiosa em saber o que diabos era tão importante para que Giovanna a chamasse de madrugada para conversar. Mas, mesmo curiosa, Gabriela não era o tipo de pessoa que iniciava uma conversa; na verdade, ela era mais do tipo que deixava os outros falarem e apenas ouvia, muito raramente ela fala.

– Eu sei o que você deve estar pensando e já respondendo: não, eu não sou satanista e nem irei pedir que você entre em um culto – disse Giovanna enquanto ia até a mesa central e se sentava em uma das cadeiras. Gabriela ficou confusa e se perguntou por que Giovanna acharia que ela pensava isso dela, até que ela se lembrou que tinha um enorme pentagrama gigante na parede. “Faz sentido as pessoas acharem que ela é satanista, mas mesmo que ela fosse, eu não estaria nem aí, a única coisa que quero saber é por que ela me chamou a essa hora da noite” – pensou Gabriela. Na verdade, ela queria dizer aquilo em voz alta, mas durante toda a sua vida ela foi o tipo de pessoa que mantinha seus pensamentos e opiniões apenas para si, coisa que a diferenciava e muito da sua irmã gêmea. Afinal, Laura sempre foi mais expressiva e se deixava guiar por suas emoções.

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Gabriela então se sentou na cadeira em frente à de Giovanna e, por bons minutos, as duas ficaram em um desconfortável silêncio, ambas apenas se encarando enquanto esperavam a outra iniciar a conversa. Gabriela, nesses minutos de encaradas desconfortáveis, não pôde deixar de começar a notar os traços de Giovanna, coisa que nunca tinha feito antes, afinal as duas nunca foram próximas; elas eram apenas colegas de classe que muito de vez em quando falavam um “oi” uma para a outra.

Giovanna tinha uma linda pele morena, longos cabelos marrons escuros que estavam sempre presos em duas tranças com um estilo medieval, além de olhos tão escuros que pareciam ser do tom de preto mais escuro. Ela parecia um personagem saído de um livro de fantasia medieval, mas não daqueles tipos “Senhor dos Anéis” ou “As Crônicas de Gelo e Fogo”, mas sim daqueles destinados ao público adolescente e que eram cheios de pornografia. “Por que eu estou pensando nesses livros? Eu nem gosto deles.” – pensou Gabriela, envergonhada por estar pensando nesse tipo de livro no meio de uma situação como essa.

Giovanna, depois de minutos de silêncio, soltou um longo suspiro que a tirou de seus pensamentos. Ela então colocou um baralho na mesa, e imediatamente Gabriela percebeu que eram as cartas de tarô do outro dia.

– É melhor eu parar de enrolar e fazer logo a pergunta: Você consegue ver o que está escrito ou ilustrado nesta carta? – perguntou Giovanna. Ao ouvir aquilo, Gabriela ficou com uma expressão de confusão em seu rosto. Aquilo era algum tipo de piada? Ela não conhecia Giovanna direito, mas nunca achou que ela fosse do tipo que chama outras pessoas a essa hora da noite apenas para fazer alguma brincadeirinha de mau gosto.

– Sim, eu não sei como funciona essa coisa de tarô e tudo mais, mas essa carta mostra uma mulher junto com uma estrela gigante, e em cima está escrito “A Estrela” – respondeu Gabriela, apesar de no fundo querer responder: “É óbvio que eu consigo ver, você acha que eu sou cega ou burra?” – porém, como sempre, ela manteve os seus pensamentos apenas para si.

Um pequeno sorriso se formou no rosto de Giovanna ao ouvir a resposta de Gabriela.

– Eu sei que pode parecer uma pergunta idiota, mas uma coisa que você tem que saber é que eu não sei o que está escrito nessa carta – O sorriso de Giovanna aumentou quando ela viu a expressão de confusão de Gabriela – acontece que para mim e para a maioria das pessoas isso é apenas uma carta em branco.

Giovanna então tirou do bolso de seu moletom uma outra carta de tarô, mas diferente das outras, aquela estava brilhando. Essa carta tinha uma figura de um homem usando vestes brancas com uma capa vermelha e um símbolo do infinito em cima de sua cabeça, na parte de cima estava escrito “O Mago”.

– A única carta que eu consigo ver qual é a figura é essa, afinal esse é o meu arcano – completou Giovanna. – E agora que eu sei que você consegue enxergar o que está escrito nas cartas, sei que você também tem um arcano interior.

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Anna Terra
Anna Terra
Anna Terra é uma estudante de jornalismo que ama literatura e fatos bizarros e únicos sobre o mundo.

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