Na última semana, durante o festival de tecnologia REC’n’Play, no Recife, a pesquisadora e professora Beatriz Luz, presidente do Instituto Brasileiro de Economia Circular, alertou para a necessidade de pensar no destino dos materiais após a vida útil das tecnologias, especialmente as de energia limpa. Ela destacou que, embora painéis solares e turbinas eólicas sejam considerados geradores de energia limpa, é crucial planejar o que acontece com esses materiais após o fim de sua utilização.
Beatriz Luz, que organizou o Brazilian Circular Hotspot no evento, afirmou que a lógica da reciclagem deve ser um ponto central nas discussões sobre inovação tecnológica. “A mensagem da circularidade é que não podemos desenvolver novas tecnologias sem considerar o que acontecerá com seus materiais depois”, afirmou.
A pesquisadora acredita que a economia circular pode ser uma peça chave no combate às mudanças climáticas. Ela defende ações urgentes para reutilizar, recuperar e reciclar materiais e energia, ressaltando que esse modelo é essencial para regenerar o planeta, proteger a biodiversidade e reduzir a poluição e o desperdício.
Transição de modelo mental
Para Beatriz, a transição para uma economia circular envolve uma mudança de mentalidade, tanto na produção quanto no consumo. “É fundamental que o poder público apoie esse novo modelo de negócios, criando diretrizes favoráveis e incentivando produtos circulares”, afirmou. Ela também destacou a importância do engajamento da indústria para explorar novas possibilidades e trabalhar com materiais recicláveis.
Na Europa, o conceito de economia circular já se transformou em lei, obrigando os produtores de energia renovável a se responsabilizarem pela gestão de equipamentos após o fim de sua vida útil. A pesquisadora alertou que, sem essa responsabilidade, o mundo poderá apenas substituir um problema, como o uso de combustíveis fósseis, por outro.
O financiamento necessário
Arno Behrens, economista ambiental do Banco Mundial, também participou do evento e ressaltou a importância do financiamento dos bancos multilaterais para iniciativas de economia circular. Segundo ele, enquanto o tema das mudanças climáticas está amplamente discutido, a economia circular ainda não recebe a mesma atenção. Ele destacou que políticas de economia circular podem ajudar a reduzir as emissões de CO₂ em mais de 7% até 2030, contribuindo assim para as metas climáticas globais.
O papel do Brasil na inovação sustentável
Kari Herlevi, especialista finlandês em economia circular, afirmou que o Brasil tem o potencial de se tornar um líder regional em inovação sustentável. Ele viu no evento no Recife uma preparação para a COP30, que acontecerá em Belém no próximo ano. “O Brazilian Circular Hotspot se apresenta como um ponto estratégico para destacar soluções brasileiras e tropicais que podem servir de inspiração para o mundo”, concluiu.