Em Gaza, onde a devastação se faz presente e as estruturas de educação tradicionais foram em grande parte destruídas, um movimento inovador tem surgido para garantir o direito à educação. Equipes de professores estão mobilizando crianças e adolescentes em tendas provisórias e nas ruas, buscando não apenas oferecer ensino, mas também apoio psicossocial. Essa iniciativa é liderada pelo Centro de Criatividade para Professores, uma organização palestina sem fins lucrativos que se dedica a proporcionar um espaço seguro para as crianças em meio ao caos.
Refaat Sabbah, diretor geral da instituição, compartilhou sua visão na Reunião Global de Educação, realizada em Fortaleza. “A educação vai além de ensinar a ler e escrever; é fundamental preparar os jovens para entender a vida em tempos de crise”, afirmou. Ele enfatiza a importância de cultivar solidariedade e humanidade em uma sociedade que tem enfrentado tanto sofrimento. Para ele, uma educação significativa não pode ser desassociada de uma profunda compreensão do que significa ser humano.
Desde o início do conflito em Gaza, as estatísticas são alarmantes: mais de 43 mil palestinos foram mortos, sendo aproximadamente 19 mil crianças, conforme dados da Federação Palestina no Brasil. A ONU relatou que, até meados de outubro, cerca de 1,9 milhão de pessoas, representando 91% da população local, foram forçadas a se deslocar dentro da região.
“Às vezes, sinto que estou vivendo um pesadelo. Por um momento, fica difícil acreditar que a realidade que vivemos é verdadeira”, desabafa Sabbah, refletindo sobre a situação angustiante. O Centro de Criatividade para Professores já atendeu mais de 200 mil crianças e cerca de 100 mil famílias, oferecendo suporte emocional e orientação para lidar com a perda de entes queridos e o trauma da guerra.
Inspirado pelos ensinamentos do educador brasileiro Paulo Freire, o Centro compreende a educação como uma ferramenta de transformação social. Sabbah menciona o conceito de “escolas sem muros”, onde a comunidade é integrada ao processo educativo. “Em Gaza, não há como se isolar em instituições educacionais que não reconhecem a realidade ao seu redor. Muitas escolas foram destruídas; 61% delas foram afetadas diretamente, segundo o relatório de Monitoramento Global da Educação da Unesco”, explica.
A nova abordagem, conforme Sabbah, implica em criar “escolas abertas” que podem ser montadas a qualquer momento e em qualquer lugar, desde que seja ao lado das crianças afligidas pelo medo. Através da educação, é possível fomentar uma compreensão crítica sobre o que está acontecendo, questionando ações de potências globais e promovendo reflexões sobre a vida e a morte.
Além de seu trabalho na organização, Sabbah integra o Comitê Diretor de Alto Nível da ONU para o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 4, que busca garantir acesso à educação em todo o mundo. Sua presença em eventos como o de Fortaleza visa disseminar a urgência de apoio global e chamar a atenção para as violações de direitos humanos em Gaza.
“É alarmante o silêncio que predomina entre muitos países. Embora a população em geral seja favorável aos direitos dos palestinos, essa realidade não se reflete nas ações oficiais. Venho à Fortaleza com a esperança de que a visibilidade pode fazer a diferença”, conclui.