O Governo do Espírito Santo, por meio das Secretarias do Turismo (Setur) e de Cultura (Secult) e do Arquivo Público do Estado (APEES), lançou o Calendário dos 150 anos da Imigração Italiana, em cerimônia realizada nessa terça-feira (19) na Casa do Turismo Capixaba, em Vitória. Também participam da elaboração do calendário o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Associação Federativa Italiana do Espírito Santo (Comunità) e o Comitê dos Italianos no Exterior ES-RJ (Comites).
O “Calendário de Eventos da Cultura Italiana” traz uma série de ações que ocorrerão no decorrer de todo o ano de 2024, comemorativas aos 150 anos da imigração italiana no Brasil. As atividades envolvem músicas, danças, religiosidade, comidas típicas, artes visuais e encontro de lideranças. Elas serão realizadas em diferentes municípios do Espírito Santo com o propósito de fortalecer e valorizar as práticas culturais dos italianos e seus milhares de descendentes no Estado.
“Fico feliz em fazer este evento no antigo Clube Saldanha da Gama, pois estava abandonado e hoje temos esse salão lindo e cheio. Quando a gente olha para trás e pensa que 150 anos não é muito diante da história da civilização. Contudo, pensando em como era a vida dos imigrantes que saíram da Itália, numa época de muitos conflitos. Imagine o desespero de sair de seu país e vir para o outro lado do mundo sem ter nada. Devemos agradecer a esses imigrantes, pois eles também ajudaram a forjar o que é o estado do Espírito Santo”, afirmou o governador Renato Casagrande.
Ele enfatizou também a importância da comemoração do sesquicentenário da imigração italiana. “Nós preservamos a cultura italiana, às vezes, mais do que os próprios italianos. A dança tradicional, por exemplo, é algo bem preservado aqui no Espírito Santo. O ano de 2024 será muito importante para a história não só do Espírito Santo, mas de todo o Brasil. Por isso, é preciso contar e divulgar essa história. Precisamos ser gratos e homenagear a todos eles que morreram antes de chegar aqui e a todos que ajudaram a forjar esse Estado.”
Para o diretor-geral do Arquivo Público do Espírito Santo, Cilmar Franceschetto, a diversidade de eventos do calendário dos 150 Anos da Imigração Italiana no Espírito Santo sinaliza a extraordinária mobilização da comunidade ítalo-capixaba. “De sul a norte do Estado, no sentido de participar ativamente das celebrações do sesquicentenário aqui e no Brasil. Por outro lado, o evento de lançamento do calendário é uma oportunidade de conclamar ainda mais a comunidade para a celebração deste importante momento histórico, pois foi em solo capixaba que se verificou o início da epopéia da imigração italiana para o Brasil”, recordou.
Durante a cerimônia, o superintendente do Sebrae-ES, Pedro Rigo, apresentou o calendário com 47 festas e eventos em homenagem à imigração italiana programadas para os municípios capixabas, juntamente com as datas de cada uma delas. “A força e dedicação dos primeiros italianos que chegaram ao Espírito Santo estão presentes em diversos segmentos da economia nos quais o Sebrae atua, como nas propriedades de café que fortalecem o agronegócio, na tradição das famílias que foram pioneiras no agroturismo e na agroindústria”, explicou.
“O calendário de atividades é muito importante para o turismo capixaba. Vamos celebrar a imigração italiana no Estado e no país. Aqui no Espírito Santo, mais de 40 municípios estarão envolvidos e esperamos que, com estas celebrações, a gente atraia visitantes de todo Brasil e até da Itália para comemorar a data. Essa agenda vai elevar o fluxo turístico, movimentar a economia local e gerar renda para os trabalhadores da cadeia produtiva do turismo”, comentou o secretário de Estado do Turismo, Philipe Lemos.
O secretário de Estado da Cultura, Fabrício Noronha, também falou sobre a importância da data para o Estado. “Este é um momento significativo para o Espírito Santo. A chegada dos italianos, trazendo na bagagem inestimáveis contribuições culturais, econômicas e sociais, foi um importante marco histórico e cultural. Ao celebrar os 150 anos da imigração, reconhecemos o valor desse legado que define características expressivas da cultura capixaba. É meta da Secult e da Setur trabalhar em conjunto, unindo esforços para promover um calendário amplo e integrado em todo o estado, ressaltando as heranças italianas e o modo como elas dialogam com outras influências étnicas e culturais, consolidando o Espírito Santo como um destino culturalmente rico e diverso”, pontuou.
Ainda durante o lançamento do calendário, a Associação Comunità ofereceu aos participantes diversas iguarias gastronômicas, como macarrão à bolonhesa, polenta, agnolini, pães, queijos, entre outros pratos italianos.
Selo comemorativo
A imigração italiana desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento do Brasil, deixando um legado duradouro em várias áreas da sociedade brasileira. Ao longo do século XIX e no início do século XX, milhares de italianos emigraram para o Brasil em busca de melhores oportunidades de vida. Sua chegada contribuiu para o crescimento econômico do País, especialmente na agricultura, indústria e comércio.
Para registrar esse momento histórico, os Correios lançaram em junho deste ano um selo personalizado para celebrar os 150 anos da Imigração Italiana no Brasil, e a cidade protagonista nesta data é Santa Teresa, que com a Lei Federal nº 13.617, de 11 de janeiro de 2017, reconhece oficialmente como a pioneira da imigração italiana no Brasil.
História da imigração italiana
Em 17 de fevereiro de 1874, chegava ao porto de Vitória o navio “La Sofia”, conduzindo 388 imigrantes italianos. Eles foram contratados por Pietro Tabacchi, que possuía a fazenda “Monte das Palmas”, em Santa Cruz. O empreendimento, porém, não prosperou, provocando descontentamentos e revoltas. Um grupo seguiu para colônias oficiais da Região Sul enquanto outros aceitaram a proposta do Governo do Espírito Santo para se instalar na “Colônia Imperial de Santa Leopoldina”, sendo direcionados ao Núcleo de Timbuhy, no atual município de Santa Teresa.
No acervo do APEES, existem centenas de documentos que testemunham esse importante fato histórico. Dentre eles, está um ofício que mostra a existência de imigrantes na localidade em outubro de 1874. Trata-se de um pedido de ressarcimento feito pelo colono Francesco Merlo, encaminhado no dia 28 de outubro de 1874 ao Presidente da Província. Francesco solicita do governo a restituição dos gastos que teve com a passagem da Itália à Colônia de Nova Trento, no valor de 122 Fiorins, pelo fato de não ter sido reembolsado pelo contratante. Com base neste documento foi publicada a Lei nº 13.617, que reconhece oficialmente a cidade de Santa Teresa como a pioneira da imigração italiana no Brasil.
A primeira expedição de italianos para o Espírito Santo foi batizada com o sobrenome do seu idealizador, Pietro Tabacchi. De acordo com o sociólogo Renzo M. Grosselli, no livro “Colônias Imperiais na Terra do Café”, da Coleção Canaã do APEES, Tabacchi era um italiano oriundo de Trento que já se encontrava na província desde o início da década de 1850. Ao observar o interesse do país pela mão de obra europeia, ele decidiu oferecer terras para os imigrantes em troca do direito de derrubar 3,5 mil jacarandás para exportação.
Após um longo período de negociação, o Ministério da Agricultura autorizou o contrato com Tabacchi, que por sua vez enviou emissários ao Trentino (Tirol Italiano), à época sob o domínio austríaco, para capitanear famílias. Assim, no dia 3 de janeiro, às 15 horas, partia do porto de Gênova a embarcação “La Sofia”. Em 01 de março, começou a viagem até o porto de Santa Cruz, em direção à propriedade de Tabacchi. Foi a primeira expedição em massa de camponeses da Itália para o Espírito Santo e daria início à epopeia emigratória dos italianos. Porém, os colonos logo perceberam que foram enganados por falsas promessas. Não existiam as terras preparadas e a situação nos alojamentos era caótica.
A Expedição Tabacchi inaugura um movimento migratório. Desta vez, o foco dos agenciadores se concentra na península itálica, especialmente nas regiões norte-nordeste, de onde partiram aos milhares para diversos países do mundo e, em um número considerável, para o Brasil. A Itália recém-unificada era um país desconexo, com altas taxas demográficas e uma grande massa de desempregados. Sem alternativas, muitos viajaram para realizar o “sonho da América”. Em 1875 as partidas dos transatlânticos de Gênova e de outros portos da Europa se tornaram rotinas.
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