quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Festival de música não tem a ver com música

Em 2001, eu era um jovem rapaz de 15 anos. Fui ao último dia do festival Rock In Rio – Silverchair, Red Hot Chilli Peppers ainda surfando a onda do Californication.

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A parte que deu merda, eu conto outra hora (obrigado, mãe e tia Neusa). O ponto aqui é o seguinte: eu estava LÁ. Eu posso dizer que visitei a Cidade do Rock de Jacarepaguá, que estive no RIR no único dia com a lotação máxima de 250.000 pessoas.

Agora… os shows? Não lembro de grande coisa. O que marcou foi a experiência toda, da saída de Vitória com a excursão, até a volta para casa. Mas normal, aos 15 ninguém sabe aproveitar o que um festival pode oferecer musicalmente.

Corta para 2023. Festival Mitra, com Lana Del Rey como atração principal. Mas um dos aspectos musicais mais legais de um festival é poder conhecer artistas que você nunca ouviu (e foi isso que eu não soube sacar aos 15 anos).

Como o quarteto canadense BADBADNOTGOOD. A banda tem um som bem abrangente: jazz (clássico e fusion – que hoje já é clássico), funk, soul, rap, rock, música brasileira…

Não escutei todos os discos da banda, mas os 4 que ouvi são muito bons. E destaco um outro, em colaboração com o ícone do rap Ghostface Killah, Sour Soul. Discão, sonoridade muito suja, como os samples do R.Z.A (não o filho da Rihanna) nas músicas do Wu-Tang Clan.

Li algumas resenhas do festival e vi gente pelas redes sociais contando que o público foi hostil com a banda, celebrou o fim do show. E aí eu chego ao ponto central do texto: não se vai em festival de música pela música, e sim pelo evento.

Tudo bem, a imensa maioria estava lá pela Lana Del Rey e curtiu o show dela (e sem descontar todos os problemas do festival). Mas é isso, sabe? O show de um dos grandes nomes do pop contemporâneo (sem caráter pejorativo), fotos e vídeos para o Instagram.

Essa não é uma defesa do tosquíssimo argumento de que “antigamente era melhor”, e menos ainda daquele papo de “o Rock In Rio agora tem artistas pop” (é só olhar a programação da primeira edição e ver a falácia caindo por terra).

E nem uma defesa do jazz contra a música pop (eu tocava Billy Cobham e Justin Timberlake no mesmo programa de rádio). Mas, para quem gosta de música, ver músicos do calibre do BADBADNOTGOOD vale a pena demais. E, em um dos shows do festival (que aconteceu no Rio e em São Paulo), eles tocaram UMA MÚSICA DO ARTHUR VEROCAI COM O ARTHUR VEROCAI.

“Na Boca do Sol” já faz parte do repertório ao vivo da banda há algum tempo, e Verocai participou do último disco deles, Talk Memory.

A faixa, presente no clássico disco de 1972 de Arthur Verocai, já foi sampleada por diversos nomes do rap (como MF DOOM e outros). Eles a tocaram ao vivo com o compositor, na terra dele. Isso é bonito demais, encadeia décadas de música – não custa lembrar que o BBNG ficou célebre por fazer versões jazzísticas de clássicos do rap.

Talvez soe como papo de tiozinho; talvez seja papo de tiozinho. Mas, mesmo na fase em que mais ouvi rock, mantinha o ouvido aberto para outros sons.

Entendo que nem todo mundo gosta de jazz, e isso é realmente normal. Mas respeito é o mínimo, né? No próximo festival que você for, busque conhecer coisas fora do seu radar. Vai que você conhece algo que gosta?

Em tempo

Ouviu o Maps, de billy woods e Kenny Segal, que indiquei na coluna passada? Agora vai indo para trás na discografia de cada um dos dois. Muita coisa boa, inclusive mais um disco juntos, Hiding Places (2019).

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João Paulo Oleare
João Paulo Oleare
João Paulo Oleare é jornalista e radialista, viciado em música e livros

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